Ucrânia: pressão dos EUA e da NATO e seguidismo dos media

Os media têm intensificado, nas últimas semanas e nos últimos dias, a campanha de dramatização da situação de “tensão entre a Rússia e a Ucrânia” (e por que não entre os EUA e a NATO e a Rússia?!), dando como iminente a “invasão pelo Kremlin” – tão iminente que já esteve agendada para Novembro, segundo os serviços secretos norte-americanos, depois para o início deste ano e agora, segundo o presidente Joe Biden, está prevista para Fevereiro.

Os meios de informação internacionais – e também os portugueses, incluindo a pública RTP – repetem a lenga-lenga com muita dedicação e pouco zelo pela independência e equidistância, repisando a narrativa de uma “ameaça” russa que os Estados Unidos, a NATO e a União Europeia alimentam e que a Federação Russa nega existir.

Moscovo fá-lo com tanta veemência e tanta legitimidade como a que possui Washington ao insistir nas suas acusações, elemento este que deveria servir de referência para os meios de informação. Pelo contrário, a generalidade dá como adquirida a verdade norte-americana e desdenha das garantias russas. Dá que pensar.

Dá que pensar também que as declarações, anteontem, do próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa conferência de imprensa com jornalistas estrangeiros, tenham tido tão pouco eco.

Citado pela evidentemente insuspeita plataforma multimédia ucraniana Ukrinform, Zelensky afirmou que “o risco existe há mais de um ano e não aumentou; o que aumentou foi a excitação em torno dele” e apelou aos meios de informação para que “continuem a ser meios de comunicação e não meios de histeria”.

Até parece, ouvindo os media internacionais “e mesmo os chefes de Estado respectivos” que “já estamos numa guerra” em todo o país” e “que há tropas a avançar pelas estradas”, acrescentou o líder ucraniano, “exortando os ocidentais a não suscitar o pânico”, como titula o portal.

Dá que pensar tamanha excitação com o cheiro a pólvora e o seguidismo acrítico dos media, tão pouco atentos (ou omitindo…) ao que este crescente dramatismo representa de biombo de ocultação do que está em marcha: para além da imediata intensificação da militarização do chamado flanco leste e do Báltico pelos EUA e pela NATO, assim como do incremento do negócio de armamento, o reforço forçado do único bloco militar sobrevivente da “guerra fria”.

Sobre a mesa está, efectivamente, não só a pretendida entrada da Ucrânia na NATO – que a Federação Russa legitimamente contesta –, mas também entrou na ordem do dia a adesão da Finlândia e da Suécia à Aliança Atlântica, fechando praticamente o cerco ao “velho inimigo” (mapa abaixo).

Dá que pensar que não pensemos mais nestas coisas e nos riscos que tamanha hegemonia encerra.

Os países europeus membros da NATO. Se a Suécia, a Finlândia e a Ucrânia entrarem, fecha-se o cerco europeu 


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