Notas de campanha (9)


1. “Encontraram-me aqui por pouco: vou para a América. Com o aumento da reforma, já comprei o bilhete de avião.” Na feira semanal da Cidade da Maia, hoje pela manhã, replicam-se as queixas em relação ao aumento insuficiente das pensões. “É o que o Costa nos dá é isto.” A senhora suspende por momentos a ironia (“Enriqueci com os três euros e pouco de aumento…”), que a coisa é séria. “Estes, ao menos, prometeram pelo menos dez”, reconhece, apontando a propaganda da CDU.

2. Acção de distribuição de propaganda no centro da Maia. Acolhimento simpático por parte de comerciantes e população. Multiplicam-se os votos de “boa sorte”. Sorte não chega, são necessários votos… “Claro, claro! Não voto em vocês, mas desejo-vos sorte, fazem falta na Assembleia da República”, diz um cliente de um estabelecimento. A dona de uma pequena loja sorri com cumplicidade: “O meu voto é como um ferrinho, está lá sempre”.

3. Acções de contacto com moradores em vários empreendimentos de habitação pública e zonas residenciais do concelho da Maia. Uma senhora abre o desdobrável a mirar os candidatos da CDU. “Então, e as reformas, como é?”, interpela. “Olhe que só tive um aumento de três euros e quarenta, não dá para nada! Ainda por cima aumentou tudo!” Conta as moedas que leva na mão. Largo um suspiro sem fechar o sorriso. “Vou aqui tomar um café. Há uns senhores que fazem troça dos pobres que vão ao café, mas é uma forma de desanuviarmos do nosso viver”. Noutro bairro, esvai-se o sol ao cair da tarde, mas a roda de mulheres desfia conversas. O custo de vida, os salários que não aumentam... e, claro, as reformas. Que o voto que muda é o da CDU. “É sempre o meu, há muitos anos!”, declara uma, apontando o símbolo do PCP. Mas olhe que costuma aparecer um partido que também tem uma foice e um martelo! “Eu sei!, é o outro, olhe que eu sei distinguir, há muitos anos!” E pisca o olho. Entendido.        

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