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A mostrar mensagens de abril, 2020

Diário Off (4)

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Desinfectante. “Qualquer substância, como o creosoto ou o álcool, aplicada em objectos inanimados para matar microrganismos. Desinfectantes e anti-sépticos são idênticos, já que ambos são germicidas, mas os anti-sépticos são aplicados principalmente em tecidos vivos”, reza a Enciclopédia Britânica (em linha), num verbete que suponho ao alcance do inglês rudimentar de Donald Trump. Os norte-americanos, que pregam democracia e ciência por todos os cantos da Terra, tiveram a desdita de eleger como presidente um tosco ignorante e atrevido e louco que, embora não estando sozinho (desenganem-se os que pensam que o programa e as decisões da Casa Branca são obra solitária e insana de Trump), se permite as intervenções mais estapafúrdias e perigosas. Dá-se o caso de, tendo ouvido da boca de um cientista notas relativamente animadoras sobre a inactivação do coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19 pela acção das radiações solares e de desinfectante (referindo-se certam

Diário Off (3)

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Futuro. “Que vai acontecer ou existir no tempo que há-de vir”. Cito do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea , da Academia das Ciências de Lisboa, obra de fiar. As crises, especialmente as pandémicas, como esta, têm este duplo efeito – de retrospectiva, convocando as pestes e epidemias do passado; e de prospectiva, cuidando de apurar, cientificamente, bem entendido, o que virá lá longe. A muito significativamente Comissão para o Futuro do Homem, da Universidade Nacional da Austrália, acaba de publicar um novo relatório avisando para dez riscos globais potencialmente catastróficos para a espécie humana e pedindo um plano de acção para que a Humanidade possa sobreviver-lhes e oferecer-nos um futuro menos sombrio. Eis o elenco, a frio e sem comentários: Alterações climáticas Declínio ambiental e extinção de espécies Armas nucleares Escassez de recursos Insegurança alimentar Novas tecnologias perigosas Sobrepopulação Poluição química global Doenças pandé

Diário Off (2)

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Confinamento. “Acto de efeito de confinar(-se)”, ou “acto ou efeito de isolar(-se) em dado lugar < monges vivem em c. nas suas celas >”, ensina o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa . Portanto, vai em 40 dias que me confinei, que me confinaram. Porém, deixaram por minha conta e risco os elevadores dos estores, os manípulos das janelas e da porta da varanda e os interruptores e comandos de toda a quinquilharia tecnológica posta ao alcance da humanidade para que possa observar-se universalmente ao espelho quer que viva um átomo de gente. É assim que vejo o mundo à minha volta e muito mais do que vai além da barreira dos prédios em redor, que alcanço incomensuráveis léguas de distância para lá dos montes que julgam limitar-me a Nascente e percorro incontáveis milhas sobre o mar que consigo enxergar a Poente.   O olhar, à vista desarmada, e os sentidos em geral detectam sinais de vida anormal. Há – ouve-se, vê-se, sente-se – crianças a brincar mais. O parque infa

Diário Off (1)

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Lay-off . Grafa-se em itálico e leva hífen. Escapou do reduto lexical exclusivo de juristas, dirigentes patronais e sindicais em que vivia, e irrompeu com toda a força no quotidiano jornalístico, chegou ao vulgo e anda na boca de toda a gente – uma espantada, outra aflita. Não há dia sem um ror de notícias em abundantes referências ao termo. Na Internet, engrossam uma torrente inesgotável e avassaladora, estimada em pelo menos 713 milhões de “entradas”, segundo me devolveu há minutos o mais popular motor de busca. Com estas e com outras, lay-off rivaliza com coronavírus, pandemia e Covid na disputa pelo título de palavra do ano. O dicionário em linha da Porto Editora já registou o neologismo , no caso, incorporando directamente um estrangeirismo. Significa – abreviemos – a suspensão ou a redução do horário de trabalho, que é como quem diz cortar no rendimento de quem trabalha. Mais de um milhão de trabalhadores foi já atingido e a ameaça intensifica-se. Tal como a de

A simplificação absoluta do poder do patronado

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É urgente não perder de vista a defesa dos direitos dos trabalhadores e o reforço das suas organizações A presente pandemia de Covid-19 pôs muito bem à vista o quanto o Governo PS agasalha de forma muito cuidadosa os interesses do capital e do patronato, deixando bem a descoberto direitos dos trabalhadores e das suas organizações representativas. A pretexto da emergência e da necessidade de medidas urgentes de apoio às empresas, as comissões sindicais e trabalhadores estão impedidas, na realidade, de obter informação rigorosa, de discutir e de contrapor às medidas de suspensão ou redução do horário normal de trabalho em largos milhares de empresas. O chamado regime do “ lay-off simplificado” demonstra-o bem, ao simplificar absolutamente, e em prejuízo exclusivo dos trabalhadores, preterindo de facto as importantes formalidades impostas pelo Código do Trabalho (artigos 299.º e 300.º) e banalizando, sem qualquer escrutínio, o que deveria ser excepção. Onde o Código d

Vergastadas pascais em nome da "tradição"

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Chibatadas de mariolas checos a jovem rapariga, em nome da "tradição". A foto é da AFP, via BBC Conta a BBC que, graças à pandemia de Covid-19, foi suspensa, nesta Segunda-feira de Páscoa, uma antiga "tradição popular" nos meios rurais da República Checa, que consiste num bando de mariolas perseguir raparigas e mulheres vergastando-as nas pernas e nas nádegas. Diz que essa "tradição", que aliás é referida nalgumas informações em linha sobre turismo, que essa inacreditável violência e essa humilhação são um ritual de fertilidade. É lamentável que tenha sido necessária uma tragédia para "suspender" tamanha ofensa às mulheres. Mas é exigível que se lhe ponha termo de uma vez por todas.

O vírus do oportunismo

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Estou a matutar no modo mais eficaz de enviar um pedido à OMS, para que encarregue um consórcio científico internacional de estudar um novo e perigoso vírus - o do oportunismo da Saúde privada.  Explico: a ministra da Saúde está fartinha de explicar que apenas serão pagas pelo Estado aos hospitais privados as despesas com doentes com Covid-19 para eles encaminhados pelo Serviço Nacional de Saúde.  Lido de outro modo: as pessoas que optarem por acorrer aos hospitais privados por sua própria e livre vontade e iniciativa pagarão - elas ou os seus seguros - as despesas que ali forem feitas.  Sucede que há uma estranha dificuldade em compreender este raciocínio tão cristalino. Numa conferência de imprensa, perguntada sobre este estranho tema e sobre como farão as pessoas que vão à privada sem dar cavaco prévio ao SNS, Marta Temido respondeu com uma pergunta muito singela: "Como é que faziam antes?" É preciso fazer um desenho?   

Tempos estranhos. Títulos obrigatórios

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Uma determinada exige, como requisito imprescindível, que se preencha obrigatoriamente, num formulário electrónico para fazer uma simples pergunta, o campo relativo ao "título".  Para além do ridículo da exigência (não, o formulário não "segue"!), o dito apresenta apenas três hipóteses: "Sr.", "Sra." e "Dr.".  Se for engenheiro, como aquele ministro que repreendeu o jornalista - "não sou doutor, sou engenheiro" -, ou arquitecto, ou enfermeiro, ou... "Dra", bem fica sem comunicação. Este capricho digital é muito curioso, quando campeia por estes tempos, não sei se na mesma empresa, mas conheço outras, o tratamento muito tu-cá-tu-lá: o Alfredo isto, o António aquilo... Para concluir, não levem a mal, mas que tem a sua laracha, tem.

Uma Constituição "tão justa que seja digna dos trabalhadores de Portugal"

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Exemplar da Assembleia da República Passam hoje 44 anos sobre a aprovação da Constituição da República Portuguesa, a 2 de Abril de 1976. Iniciados em pleno “Verão Quente” e prolongados para além do 25 de Novembro, os trabalhos da Assembleia Constituinte constituíram um desafio extraordinário que em boa medida corresponderam à vibrante exortação do Presidente da República, General Costa Gomes, na sessão inaugural, em  2 de Junho de 1975 : “É tarefa para génios gizar uma Constituição revolucionária, tão avançada que não seja ultrapassada, tão adequada que não seja flanqueada, tão inspirada que seja redentora, tão justa que seja digna dos trabalhadores de Portugal. “Srs. Deputados: Em nome dos mais humildes, das classes mais desfavorecidas, que desejam, na luta do trabalho diário, o avanço da nossa revolução, vos peço que minimizeis os vossos interesses partidários, subordinando-os à consciência afinada pelos interesses maiores da Pátria e do povo de Portugal”.