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A mostrar mensagens de fevereiro, 2021

Marcelino da Mata: um voto mais que dispensável

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  Muitos portugueses assistiram com perplexidade e preocupação à votação, ao final do dia da passada quinta-feira, na Assembleia da República, de um voto de pesar pela morte do Tenente-coronel Marcelino da Mata, figura controversa da história da Guerra Colonial na “antiga Guiné Portuguesa”. O voto que, tal como a presença do Presidente da República e dos chefes de Estado-Maior General das Forças Armadas e do Exército nas cerimónias fúnebres, é incompreensível para quem, mesmo com a benevolência possível em relação ao contexto histórico da Guerra Colonial/Guerra de Libertação, encara pelo menos com a justa reserva actos que deveriam ser dispensáveis, sobretudo numa altura em que tudo serve para normalizar o fascismo e resgatar o colonialismo das incontáveis culpas. Sob vários aspectos, é possível ler tanto nas diversas narrativas dos “feitos” militares do “militar mais condecorado do Exército português” como no próprio voto aprovado na Casa da Democracia pelo PSD, CDS, Chega e Inter

“Avante!”: 90 anos de resistência

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  O jornal Avante! , órgão central do Partido Comunista Português (PCP), completa hoje 90 anos de publicação, sendo um exemplo extraordinário de coragem e tenacidade no combate contra o fascismo, mas também de resistência mesmo em democracia. O primeiro número do Avante! , o jornal que, mesmo a nível internacional, mais tempo durou e resistiu nas dificílimas condições da clandestinidade (mais de 43 anos!), saiu pela primeira vez em 15 de Fevereiro de 1931, tendo desempenhado um papel essencial na informação e propaganda do PCP e na organização das lutas operárias. Mas foi também um instrumento único para furar o cerco da censura férrea à imprensa, que não podia (e nalguns casos também não estava interessada) noticiar (e contribuir para organizar) inúmeras greves e lutas dos trabalhadores, e muito menos as posições dos comunistas – incluindo o conteúdo dos congressos (clandestinos) do PCP. Como ouvi várias vezes José Casanova (antigo director) dizer, não seria possível hoje recons

Independentismo catalão reforça posições

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Os resultados com o escrutínio prestes a concluir. A infografia é do El País , com a devida vénia   Os partidos independentistas catalães obtiveram hoje a maioria absoluta dos lugares no Parlamento da Catalunha, mas terão de entender-se para assegurar que o líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, seja o novo presidente da Generalitat . A má notícia é que o Vox, de extrema-direita, irrompe com onze deputados, confirmando a rápida reconfiguração da direita. Quando já está praticamente concluído o escrutínio das eleições autonómicas, o Partido Socialista da Catalunha (PSC), conduzido pelo ministro espanhol da Saúde, Salvador Illa, que contava 23,02% dos votos, está empatado com a ERC (21,31%) em número de deputados (33), uma recuperação extraordinária dos 17 eleitos em 2017, mas sem qualquer possibilidade de chefiar a região. O Juntos Pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente Carles Puigdemont, perde dois dos 34 deputados que tinha no mandato cessante, perdendo

Venezuela: Um apelo que é preciso escutar

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A relatora especial da ONU para os Direitos Humanos, Alena Douhan (foto da AVN) Passou mais de um dia sobre o apelo lancinante da relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Alena Douhan, para que cessem as sanções à Venezuela e que países como Portugal descongelem recursos do Estado venezuelano, sem que tenha ocorrido qualquer sobressalto na chamada comunidade internacional. Numa conferência de imprensa em Caracas, após duas semanas de trabalho no terreno, incluindo reuniões com o Governo e com forças sociais e partidos oposição, Alena Douhan salientou que as sanções, o bloqueio económico à Venezuela e o congelamento de recursos “exacerbaram as calamidades” e “limitam o direito à vida, à educação, comida e medicamentos”. Segundo a notícia do diário El Universal , que não é propriamente chavista, a relatora especial da ONU afirmou que as medidas coercivas impostas pelos Estados Unidos e pela Europa desde 2017 travaram o desenvolvimento do país

Covid: Encarniçamento moral e capitalismo

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Prossegue com grande afinco a caça às bruxas da prevaricação na vacinação contra a covid-19 e o afã punitivo contra os “fura-filas”. Afadigam-se uns a denunciar suspeitos e outros a esquadrinhar casos, empenhando-se outros a brandir ameaças de severas sanções, mandando para trás das grades por alguns anos quem quis, ou quem aceitou, a furtiva injecção e salvar a pele à revelia da lei e dos regulamentos. Tais comportamentos são censuráveis, dizem que sim e parece talvez aceitável, em razão da escassez de um recurso tão precioso quanto vital – o que levou à fixação de estritas regras de prioridade –, sendo porventura pertinentes as candentes discussões sobre a natureza ilícita dos actos e provável a imoralidade das condutas tão zelosamente identificadas. No plano dos princípios gerais de direito, puna-se quem violou a lei, se isso tranquiliza as consciências neste tempo de encarniçamento moral a que me referi – atrevo-me a supor que mais bem que mal – há coisa de uma semana. Ao longo des