Nave dos dias

  O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva: no fim, ficará tudo a contento... (A foto é de Rodrigo Antunes, da agência Lusa, com a devida vénia) Vai grande excitação patriótica com a "reacção" do ministro português, ontem, e do Presidente da República, hoje, à "ameaça" do embaixador dos Estados Unidos da América em Lisboa, caso Portugal saia da linha aceite a entrada da tecnológica de telecomunicações chinesa Huawei no projecto 5G. Vieram os dois, primeiro o ministro, depois o supremo da Nação, dizer à uma que em Portugal mandam as soberanas autoridades portuguesas e que era o que mais faltava que vissem cá dizer-nos com quem fazemos negócios, numa aparente querela que tem já quase barbas . Escusais de tecer loas apressadas ao zelo patriótico de suas excelências, pois convém ouvir e ler bem o que disse uma e sufragou a outra, e atentar no que as palavras proferidas dizem das inevitá

No passado dia 9 de Setembro, a dirigente do Bloco de Esquerda e deputada no Parlamento Europeu Marisa Matias fez a apresentação pública da sua candidatura a Presidente da República. No dia seguinte, a ex-eurodeputada Ana Gomes apresentou também a sua a sua candidatura ao mesmo cargo. No dia 12 de Setembro, dois dias depois da segunda apresentação, a edição impressa semanal do Diário de Notícias  concedeu um importante destaque às duas candidatas, com uma expressiva chamada de primeira página (na foto) e duas páginas dedicadas a cada uma no corpo do jornal - num caso em entrevista; noutro sob a forma de perfil. São opções editoriais. No dia 17 de Setembro, o dirigente do Partido Comunista Português e deputado no Parlamento Europeu João Ferreira fez a apresentação pública da sua candidatura a Presidente da República, candidatura essa que tinha sido anunciada no final da reunião do Comité Central do PCP no sábado, dia 12. No dia 19 de Setembro, dois dias depois da apresentação da candida

O candidato presidencial João Ferreira concedeu uma entrevista memorável ao jornal "Público" e à Rádio Renascença, dada hoje à estampa neste jornal de referência  Memorável pela inteligência aguda das respostas, pela superioridade intelectual com que driblou o jogo das entrevistadoras, pela firmeza ideológica com que enfrentou as perguntas que escorriam preconceito e pela clareza com que se não esquivou à estafada insistência inquisitorial sobre a "classificação" dos "regimes" do costume. É sintomático que, salvo melhor interpretação, nenhuma pergunta mostrou preocupação em relação àquilo que João Ferreira se propõe levar a cabo nesta candidatura, como encara e como propõe que seja encarado o papel de Presidente da República.

A sondagem que o Jornal de Notícias hoje publica, sobre as intenções  de voto em eventuais eleições legislativas nesta altura, sugere inúmeras possibilidades de reflexão sobre o presente político e o futuro não muito longínquo das decisões que os portugueses vão tomar. Uma reflexão inevitável tem a ver com a irremediável reconfiguração do campo da direita, da qual emerge, surgindo despudoradamente à luz do dia a extrema-direita e a quinquilharia fascista longos anos acobertada nas fileiras do PSD e do CDS. Era ali que estavam não só os eleitores atuais e próximos do Chega, mas sobretudo os seus dirigentes. Apesar de tudo, tem a vantagem para a chamada direita tradicional "democrática" de uma espécie de separação de águas, se acreditarmos que nela está interessada. A questão está, porém, em saber se genuinamente estava enganada ou se deu guarida estratégica aos fascistas que agora surgem de cara descoberta e agora assumem uma agenda revanchista. Outra reflexão que importa faz

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Não creio que alguma vez o PCP e a Festa do "Avante!" tenham tido "boa imprensa". Na edição deste ano, os media levaram mais longe do que nunca, dando espaço a convenientes declarações de verdeiro ódio por parte de protagonistas políticos ou dando livre curso à sua iniciativa e criação, mais do que o preconceito e a ignorância, um programa nem sempre oculto de hostilização. Desde Maio, com especial intensificação nos últimos dias, a forma como elementares regras e padrões de imparcialidade, rigor e honestidade foram postergadas e como a credibilidade do jornalismo foi posta em causa justifica uma reflexão séria de todos e, sobretudo estudo dos cientistas da comunicação e outros académicos. O "corpus" susceptível de análise, tal a torrente de meias-verdades, omissões, manipulações, mentiras e efabulações, é imenso e quase inesgotável.

É só para esclarecer o pivô da RTP, que acaba de dizer no "Jornal da Tarde" que "a mensagem de abertura" (do secretário-geral do PCP) da Festa do "Avante!" "será transmitida apenas pelos ecrãs gigantes" na Festa, que será transmitido também em várias plataformas digitais.  E acrescentar que, para além do afã tão extraordinário com que os meios de comunicação social estão a acompanhar a Festa, é naturalmente expectável que, por critérios jornalísticos, as televisões e os meios digitais façam um directo decente do acontecimento. De nada.