Diário Off (4)
Desinfectante. “Qualquer substância, como o creosoto ou o
álcool, aplicada em objectos inanimados para matar microrganismos.
Desinfectantes e anti-sépticos são idênticos, já que ambos são germicidas, mas
os anti-sépticos são aplicados principalmente em tecidos vivos”, reza a Enciclopédia Britânica (em linha), num verbete que
suponho ao alcance do inglês rudimentar de Donald Trump.
Os norte-americanos, que pregam democracia e ciência por
todos os cantos da Terra, tiveram a desdita de eleger como presidente um tosco
ignorante e atrevido e louco que, embora não estando sozinho (desenganem-se os
que pensam que o programa e as decisões da Casa Branca são obra solitária e
insana de Trump), se permite as intervenções mais estapafúrdias e perigosas.
Dá-se o caso de, tendo ouvido da boca de um cientista notas
relativamente animadoras sobre a inactivação do coronavírus responsável pela
pandemia de Covid-19 pela acção das radiações solares e de desinfectante
(referindo-se certamente a superfícies e objectos), o tosco Trump ter-se posto de
imediato a perorar
sobre a hipótese de se expor o interior do corpo humano a “potentes luzes”
e de se injectar desinfectante nas veias dos pacientes.
Pasmai, ó cientistas de meia-tigela!, que demandais o santo
graal de uma cura, de uma vacina, de um lenitivo que seja, que estudais há
tantos anos os segredos, manhas e artimanhas de vírus, bactérias e outros seres
que há milénios atormentam a humanidade.
Sabei agora que estais perante o refulgente génio que há-de
libertar-nos dos horrores, o sábio mestre de todos os sábios! Cumulai-o quanto
antes com tantas distinções e prémios científicos haja à face da Terra e outros
que se inventem, que o Nobel da Medicina é galardão modesto. Fazei isso antes
que, desinfectando-se, se feneça com as veias intoxicadas de creolina.
Agora a sério: a sugestão ou simples pergunta ignorante de Trump, propagada aos quatro ventos, é completamente irresponsável e perigosa, como advertiram especialistas.
O Diário Off volta
a ficar on no dia 4 de Maio.