Na morte do pintor António Fernando
Venho tarde à evocação do pintor António Fernando, cuja morte me colheu de surpresa, mas gostaria de deixar duas ou três notas à boleia da generosíssima fotografia - uma entre muitas - que dele fez o Henrique Borges e a quem peço licença para aqui a reutilizar.
A primeira é a de retenção deste olhar tão vivo e tão sereno do pintor magnífico mas discretíssimo que era o António Fernando. Do que vi e do que conheço era assim mesmo - e não me consta que alguma vez se tenha posto em bicos de pés.
A segunda é para salientar o significado desta e de outras imagens que o Henrique colheu dele: julgo saber que os unia uma enorme amizade.
A terceira é uma inconfidência que suponho que o Henrique me perdoará.
Numa bonita manhã manhã, mal se levantou a malfadada restrição à circulação e à frequência de estabelecimentos como as livrarias imposta pela crise da Covid-19, encontramo-nos os dois na livraria da UNICEPE.
Estávamos evidentemente felizes com o regresso ao "normal" do quotidiano e o Henrique contou, com um entusiasmo contagioso, que acabara de cruzar-se com o António Fernando na Praça dos Leões.
"Posso dar-te um abraço?!", perguntou o António. "Claro que sim!", respondeu o Henrique. Imaginei-os então - e reconstruo agora essa imagem - nos braços um dos outro, numa manifestação de estima à prova das regras de etiqueta social que então nos era imposta.
Obrigado a ambos por me terem ensinado a resistir à ditadura do "novo normal" que ia sendo implantada.