Notas de campanha (16)

1. Estratégias de distribuição de propaganda política à porta de supermercados, o dilema: entrega-se à entrada ou à saída? Certamente à saída, porque as pessoas querem ter as mãos livres para escolher os produtos, colocá-los no cesto ou nos carrinhos, passar para o tapete da caixa, colocar nos sacos, pagar… Resposta certa: depende. Aquela senhora do casaco castanho, por exemplo, que se encaminha para a porta de entrada, quase fica ofendida por não lhe entregarmos um desdobrável, tal como o acabado de oferecer a uma outra que transpusera a porta da saída. E um homem estacou mesmo à espera do documento. “Vamos a ver se o Costa se põe fino!” É preciso dar mais força à CDU.

2. A primeira aflição da empregada de uma loja num centro comercial era a de que a brigada da CDU não entrasse toda. “Só um, por favor”, pediu com modos gentis quando me aproximei e entreguei o documento. Explicou: “É por causa do controlo das entradas na loja, que não batem com a conversão”. Ou seja, os trabalhadores de muitas lojas recebem prémios de vendas que são atribuídos de acordo com a relação número de entradas (registadas por um dispositivo electrónico) versus vendas concretizadas. A que requintes chega o capitalismo para se desculpar pela contenção de salários…     

3. “Felicidades para todos! Os senhores estão numa linha boa. Oxalá tenham um bom resultado!” É com este incentivo efusivo que um velhote nos recebe à entrada de um parque na Maia. Adiante, duas raparigas rejeitam a propaganda com enfado. “Não vale a pena, não vou votar”, justifica uma; “Eu voto. Mas voto em branco, porque isto não muda”, esclarece a outra. Mas isto só muda se votarmos no partido certo… “Bem, então deixe ver…”

4. O dono de um café num bairro na Maia declina com aspereza a propaganda que lhe oferecemos. “Que isto está tudo mal, está à vista que é verdade, ninguém nega, então os do rendimento mínimo custam uma fortuna…” Mas o senhor sabe qual é a despesa da Segurança Social com o rendimento social de inserção? Repisa a tecla do “custo”. Pois bem, o RSI representa 1% das despesas da Segurança Social, veio há dias nos jornais, acredita?, e o valor é muito baixo. “Eu cá, estou mais preocupado é com os banqueiros”, ouve-se ao lado. E ele: “Esses são poucos”. E o outro: “Mas levam muito, muitos milhões!”     

 

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