Notas de campanha (14)

 

1. O último debate dos partidos parlamentares antes das eleições, esta manhã em simultâneo nas rádios nacionais Antena1, Rádio Renascença e TSF, com transmissão também na RTP3. Rui Rio e André Ventura não participam, devido a “compromissos de campanha”. Apesar dos ganhos em higiene do debate, é uma falta de respeito para com os ouvintes e pelo importantíssimo meio rádio. Inevitavelmente (?!), o debate insiste no tema de política de alianças ou entendimentos – se PS com os partidos à esquerda ou à direita; se PSD com PS ou à direita. E por que há-de ser assim e não outra hipótese? João Oliveira, que substituiu Jerónimo de Sousa no debate, colocou-a com clareza: “Está o PS disponível para convergir com a CDU para encontrar respostas para os problemas do país?”   

2.  "Ladrões!" Ainda a brigada da CDU estava a uma trintena de metros de distância e já se preparava, em certo café da freguesia de Ramalde, uma arruaça enxameada de insultos e ameaças. No interior, o dono e um segundo homem, mais novo, ambos façanhudos, investiram contra nós toda a hostilidade e toda a raiva de que eram capazes. "Ponham-se lá fora! Aqui não entram políticos!", bradava o dono. E o outro a carregar no tom agressivo e a repetir o estribilho provocatório – "Andam todos a roubar!" –, até despejar pela boca “É por isso que eu vou votar no Chega!" É neste caldo de cultura que fascismo medra. No exterior, duas mulheres, encolhidas de pavor, aceitam a propaganda num gesto rápido, fazendo desaparecer os papéis nos aventais. “Coragem: contamos com a CDU…”, murmura uma, num tom de anacrónica cumplicidade de clandestinidade.

3. A brigada percorre um bairro no Viso quase vazio. Na manhã de dia de trabalho, cirandam alguns moradores mais velhos, uma mulher mais apressada para a lida da casa que recebe a propaganda ("É para ver se isto melhora, dar mais força à CDU!", esclarece a vereadora comunista na Câmara do Porto, Ilda Figueiredo; “Por melhores salários e pensões, pela habitação, saúde, para melhorar as vidas das pessoas”, completa Diana Ferreira) e prossegue o seu rumo, com um repetido “obrigada e boa sorte para vocês e para todos nós”. Orgulhoso, o velhote do abrigo improvisado pelas suas mãos – abrigo de periquitos e outras aves e de mesa de jogatinas e convívios, enfeitado com toda a sorte de cachecóis e outros acessórios de clubes desportivos – recebe a comitiva com um sorriso rasgado. “Isto não é para mim, é para a comunidade”, faz saber, dando conta à vereadora e à primeira candidata dos progressos do relvado que atapeta o logradouro comum de vários blocos. Conquista da CDU. “A última vez que aqui viemos, eu e a minha camarada Diana Ferreira, isto era um lamaçal. Levei o problema à Câmara”, narra Ilda. E o cicerone, guardando com zelo o desdobrável: “A gente sabe com quem conta!”      

4. O bairro do IHRU – vê-se a degradação bem à distância – é uma montra de abandono de muitos anos. De uma janela, uma senhora queixa-se das infiltrações de anos que lhe danificam a casa e os pertences e furtam a saúde aos filhos. “Dormem na humidade desde que nasceram, já sofrem de bronquite desde pequeninos.” Ilda explica que o bairro é do Estado, que o IHRU está sob a tutela do Governo. “O que é preciso é dar mais força à CDU – a mim, na Câmara; à minha camarada, na Assembleia da República.” Outro morador aproxima-se e replica as queixas, com a água a entrar pela casa há anos. “Cai a água e o dinheiro também desce!” E ri-se da pilhéria – de nervoso, já se vê. Adiante, outro morador avança à procura da propaganda. Vamos mudar isto para melhor? “Vamos! Isto tem de ter um rumo!”. Na esquina, surge, no seu vagar, uma senhora apoiada a custo numa muleta. Já vi que tem o nosso documento… “Claro! É para ler com calma quando chegar a casa.”   

5. Mais um contacto com trabalhadores de uma fábrica na Maia, à saída do turno. Os rostos denunciam o cansaço, mas há sorrisos e disponibilidade breve para colher a propaganda e agradecer a nossa acção de campanha. “Obrigado” é o mais comum; “Obrigado pelo vosso trabalho!”, também ouvimos. Muitos dos que passam de carro abrandam ao aproximar-se e baixam o vidro para aceitar os documentos. Também há conversas, tópicos rápidos. Vamos mudar isto? “Mudar?! Só se for para eles!”, ri uma operária, acenando com a cabeça para as instalações. Mas está nas nossas mãos mudar, com melhores salários. “Então vamos a isso! É no dia 30, não é? Vocês merecem o meu voto.”     

6. Há tempo ainda para mais um bairro, também na Maia, está a noite a cair. Gente que regressa do trabalho, que recolhe a casa. Um homem, desempregado, desabafa as mágoas das suas desgraças privadas, questões de família, acidentes, desemprego, saúde comprometida. Há todo um cosmos de problemas, que o PCP e a CDU conhecem bem no terreno, de ouvir e dialogar com quem os vive. Por isso sabemos bem do que falamos.    

7. Ao serão, sessão pública, na Associação de Inquilinos do Norte de Portugal, subordinada ao tema “Habitação: Uma questão de saúde pública”, com a primeira candidata da CDU Diana Ferreira, o especialista em saúde pública José Manuel calheiros e o advogado especializado em problemas da habitação José Martins. Sala cheia para ouvir, mas também para contar, na primeira pessoa, o drama da perseguição aos moradores que resistem, no Centro Histórico do Porto, ao acosso dos proprietários que estão a transformar a habitação em mercadoria, mas também enfrentam o ruído insuportável – “toda a noite!”, noite após noite – das colunas portáveis “sempre a bombar música”, as hordas de gente a beber, a armar zaragatas, a usar portas e entradas e passeios como casas de banho… “É impossível ter uma vida saudável numa cidade doente”, desabafa uma mulher. E vem o problema de falta de habitação – pelo menos três mil famílias no Porto a precisar de casa; por cada pedido de habitação, há 12 casas vazias… “É preciso rever o regulamento da ‘movida’, voltar à questão dos limites do alojamento local, a políticas de reabilitação eficaz”, apela Ilda Figueiredo. Diana Ferreira recoloca sobre a mesa as propostas do PCP e da CDU – um programa de rendas efectivamente acessível, limitando o esforço das famílias a 30%; apoio à promoção cooperativa e das associações de moradores, à auto-construção e requalificação; posse administrativa de prédios devolutos e/ou a necessitar de obras que não são feitas; revogação da lei dos despejos; mas também aumento geral dos salários e estabilidade no emprego, para que as famílias possam comprar ou alugar casa, mas que os preços não vão atrás dos aumentos dos salários… Exortação final, parafraseando Álvaro Cunhal: “Tomemos nas nossas mãos o destino das nossas vidas, tomemos nas nossas mãos a possibilidade de mudar, com o voto na CDU!”   

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