Notas de campanha (8)
1. Contacto com pescadores no
portinho de Angeiras, Matosinhos. “Antes, mal vinha temporal ou vermos a previsão de vagas
de sete metros, lá vínhamos limpar a praia – retirar todos os barcos.” É geral
a satisfação pelo papel do PCP na construção do quebra-mar que permite aos
pescadores manter embarcações e apetrechos no cimo do areal quando a borrasca
sacode a costa. “Mas só vamos ao mar duas vezes por semana, e não compensa!” O
jovem pescador (ao lado, na azáfama da prolongada tarefa de catar o lixo das redes,
o pai passa-se a palavra do protesto “-estou cansado disto”, justifica-se) desata
as queixas. “Dantes, íamos ao mar com 25 euros de gasolina; agora, são mais de
40 – tudo sobe, combustíveis, redes, por aí fora, mas continuamos a vender o
peixe ao mesmo preço…” Mas no mercado não está ao mesmo preço! “Pois não, mas
continuamos a ganhar o mesmo! Se ao menos viesse a gasolina como o gasóleo
agrícola.” Um camarada atalha: o PCP apresentou já essa proposta na Assembleia
da República, foi chumbada pelo PS.
2. “Não quero nada disso! O que é
preciso é tirar o rendimento mínimo àqueles malandros!” A vendedeira de frutas
e legumes rejeita a propaganda da CDU. Que vai tudo mal, que o que é preciso é
não dar dinheiro “àquela gente”, insiste, cirandando entre cabases estendidos
pelo passeio. Ó minha senhora, olhe que isso é o que a direita e os fascistas
querem: pôr os pobres contra pobres, enquanto os ricos vão reinando! “Pois,
olhe, ainda ontem lá estavam aqueles dois nas televisões. Não nos querem dar
nada!” Está a ver? “Ora dê cá o papel, a ver o que dizem vocês…”
3. Nova sessão de esclarecimentos
com cidadãos em reclusão. Debate intenso, rico, perguntas dirigidas aos
candidatos da CDU com acutilância. “O que é que vocês conhecem do nosso mundo,
desta terra de ninguém?”, interpela um deles, ainda jovem, olhar cortante.
Outro lê com ênfase as três palavras-chave da capa do desdobrável – Salários,
Pensões, Saúde, Direitos. “Vamos falar de direitos.”