Notas de pré-campanha (32)



1. O mercado de produtos biológicos que funciona aos sábados no núcleo rural do Parque da Cidade, no Porto, corre – porventura mal comparando – ao ritmo da velha agricultura: com a lentidão e o ritual devidos. “Enquanto uma alface se faz numa ou duas semanas numa estufa, demora dois meses ou mais nos nossos campos”, ilustra uma produtora. Os produtores vieram de longe, até de Tondela, S. Pedro do Sul, por aí fora, ou de mais perto, como Gondomar e Vila Nova de Gaia. Os produtos, ou quem os representa. Veja-se este rapaz e esta rapariga, por exemplo, que aqui estão, do outro lado da pequena banca: estudantes no Politécnico de Viseu, vêm ganhar ao dia. E tal o pagamento? Trocam olhares acanhados. “Alguma coisa…” Dá para as propinas? Encolhem os ombros. “Dá para comprar umas coisitas…” Vamos lá então melhorar a vida de quem trabalha! Os compradores chegam de mais perto – do pacato aglomerado urbano que escorre da encosta suave a Nascente, por exemplo –, uns apeados e munidos de sacos; outros montados em bicicletas modernas, equipadas com alforges. Um simpático casal idoso recebe com satisfação o desdobrável com a lista de candidatos e as principais propostas da CDU. “É claro que queremos”, diz a senhora. E o marido completa: “É preciso garantir mais deputados a quem merece, à CDU!”
2. Num espaço acanhado e quase escondido do Jardim de Soares dos Reis, em Vila Nova de Gaia, funciona outro mercadinho de produtos biológicos, bem mais pequeno. “Isto vai!” A produtora-vendedora, com uma quinta biológica no concelho, tem a sua esperança na prosperidade da opção. Tem algum apoio? “Não, não temos nada – e merecemos!” Ora, a CDU tem proposto apoios à agricultura familiar, mas acaba chumbado: para a grande agricultura e para a exploração intensiva e super-intensiva do Alentejo e do Algarve é que nunca faltam. “Exacto!”
3. Acção de contacto com população e comerciantes em Gaia. A dona de um gabinete de estética e unhas começa por declinar amavelmente a propaganda logo ao enunciado Para melhorar a vida dos trabalhadores: “Então não é para mim, que não sou assalariada…” Pois não, mas muitas das suas clientes são; se ganharem melhor, talvez venham cá mais vezes. “Ora, bem visto! Vou ler sim, obrigada.” Numa esplanada, uma jovem aceita com curiosidade o documento. “Não sei nada de política”, vai dizendo. É estudante do Bioengenharia, mas já projecta “ir para fora”. “Não vejo que haja emprego por cá.” Ora, entre as propostas da CDU nomeadamente para o distrito está precisamente o desenvolvimento da economia e da indústria numa base científica e tecnológica, ou seja, de criação de mais emprego. “Ah!, vou ver.”
4. Na marginal de Matosinhos, a tarde corre sob o sol pré-primaveril e nuvens bem altas a tranquilizar aas famílias que por ali passeiam. Então, este bebé está na creche? “Anda, claro! E gratuita!” E a quem se deve? “A nós camarada!” E o casal de avós bem-disposto seguiu adiante (“Já voltamos! Já voltamos!”) atravessando a concentração de activistas da CDU na zona da anémona, que preparavam a participação numa breve “arruada” pelo ambiente, que termina já lá adiante, próximo do terminal de cargueiros, com breves alocuções sobre os problemas ambientais no concelho. À passagem, são muitos os que aceitam os documentos da CDU; e outros que filmam e fotografam a coluna colorida e alegre. “São os únicos!”
5. Está a noite caída e a cidade enche-se do zumbido ziguezagueante das motoretas dos estafetas de entregas de refeições. Estamos agora ao contacto com eles junto de um restaurante que lhes serve de base, aguardando o sinal mágico na aplicação do telemóvel. “Desculpe, tenho de ir, tenho uma encomenda…” Os olhos denunciam um cansaço imenso. “Trabalho 15 horas por dia, pelo menos. Ganho 800 e tal euros, pode chegar aos mil, não é fixo, é mais ou menos ao quilómetro, posso até ganhar só um euro numa corrida.” A explicação repete-se, numa toada multilingue. Ah!, mas é preciso pagar o aluguer ou a prestação da mota, o alojamento (250 euros por uma cama usada à vez por outros de igual sorte). “E então, o que propõem para nós?” Que tenham direito efectivo a contrato de trabalho, com horário e salário justos, direito a férias…
Mais informações na página da CDU - Distrito do Porto

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