Notas de pré-campanha (19)

 

1. A feira semanal do Marco de Canaveses está cercada por grandes superfícies/supermercados – um de cada lado, outro um pouco atrás, outros mais adiante, sufocantes. Quem chegou primeiro? “A feira!, há trinta e tal anos, veio da antiga para aqui. Foi o Belmiro (de Azevedo) que nos tirou de lá, para fazer o Continente”, conta o comerciante. “Dizia que as feiras não tinham futuro…” Pois, só as fortunas dos grandes supermercados estavam fadadas para o ter, não era? “Era, mas ainda cá estamos!” A resistência pesa e é dura, mas lá estão. Veja-se o que diz este outro feirante, vendedor de frutas e legumes, que nos provoca à aproximação e mal um camarada esboça o gesto de oferecer-lhe o panfleto da CDU. “Aqui não compro nada, só vendo!” Que não quero vender nada, apenas perguntar, como, por exemplo, saber há quanto tempo por aqui vende. “Ui!!!, há muito ano!, era tudo só bouças em redor…” Então os supermercados vieram fazer concorrência à feira.. Que não. “Quem quiser fraco, vai lá; quem quiser bom vem aqui… Bem, dê cá o papel para eu ler mais logo!”      

2. Viagem de comboio entre o Marco de Canaveses e Penafiel, com chamada de atenção para o levantamento da linha do Tâmega, entre a Livração (linha do Douro) e Amarante, em 2009, 12 quilómetros de ferrovia que tanta falta fazem. “Era muito fácil ir para o Porto: apanhava a motora, saía no entroncamento da Livração e seguia”. É um testemunho, mas há mais, de viagens não regulares. “Só se passes diários eram 150”, conta Isabel Baldaia, antiga presidente da Junta de Freguesia. E narra a luta travada, das reuniões com a CP e outras autoridades, para que a ligação fosse mantida. Fecharam-na alegando razões de segurança, mas nada fizeram. Pois olhe, o PCP propôs na Assembleia da República a recuperação dessa ligação, mas o PS chumbou.  

3. Com o sol da tarde, a rua central de Penafiel anima-se pachorrentamente com famílias e namorados passeando, dando tempo ao tempo, que este sábado não é para desperdiçar – uns conversando, outros espreitando as montras. Nas lojas, mingua a clientela. “Não há dinheiro…” Isto dito ainda vamos no terceiro dia de um novo mês é caso para preocupação. E para mudar, claro. “Voto sempre neste”, garante um velhote, num banco de jardim, apontando o documento da CDU. E o amigo: “Para quê, são todos iguais…” Pois olhe que o PCP propôs o aumento das pensões e reformas em 7,5% e em pelo menos 70 euros para todos e o PS e o PSD votaram contra; como é que somos iguais? “Sim, lá isso…”  

4. Ao final do dia, uma delegação da CDU assiste, no Teatro Nacional de Carlos Alberto, à peça  “Tribunal Mina”, um espectáculo de teatro documental da estrutura Hotel Europa que, construindo uma narrativa a partir de dados essenciais da luta da população de São Pedro da Cova pela remoção de 300 mil toneladas de resíduos perigosos depositados nas escombreiras das antigas minas de carvão, com recurso à voz própria de moradores e outros protagonistas dos acontecimentos (lá está o meu camarada Daniel Vieira, antigo presidente da Junta de Freguesia), constitui um emocionante manifesto político reclamando justiça para o enorme crime ambiental que ficou sem castigo. A criação e a dramaturgia são do actor e encenador André Amálio.

 

Mais informações na página da CDU - Distrito do Porto

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