Notas de pré-campanha (21)

1. “Ficam a saber: se não vir a despenalização das reformas (antecipadas), não voto em vocês!” Desafio feito, a idosa aguarda de olhar fixo. É o que o PCP tem proposto e a CDU defende: quem descontou 40 ou mais anos, tem o direito a reformar-se sem penalização. “Isso! É preciso que o primeiro avance, que os outros vão atrás!”, desafiou. E seguiu para a feira. Estamos em Santo Tirso e o início de manhã segue frio e lento. “Não há dinheiro…” Parece um estribilho. E um camarada replica ao vendedor: é preciso é aumentar os salários e as pensões e reformas. “Vamos lá a ver! Tenham boa sorte!” E votos… “Era isso que eu queria dizer.” Outro passeia o olha pelo panfleto e guarda-o com zelo na carrinha. “O que é preciso é chegar lá e cumprir, não é só dar papéis!” E nós cumprimos, apresentando propostas. “Mas são pouquinhos…” Mas se nos derem mais deputados, poderemos influenciar mais. “Por isso é que vou votar em vocês!”

2. Reunião com estruturas culturais na área das artes performativas, marcada para a Travessa das Águas, n.º 125, no Porto. É uma a rua “muito peculiar”, na síntese de Ricardo Alves, da companhia de teatro Palmilha Dentada – o primeiro intruso neste pacato lugar da cidade. Conversamos enquanto aguardamos os representantes de outras estruturas, cai a manhã para o fim e a travessa está em silêncio. Quando a companhia se mudou para ali, foi “bem acolhida” pelos moradores. A reunião começa entretanto. Foi muito produtiva – do ponto de vista da recolha de contribuições do sector e muito gratificante. Também na Cultura somos mesmo muito diferentes dos outros.

3. Contacto com os trabalhadores da fábrica de vidro de embalagem (garrafas) Barbosa e Almeida, em Avintes, Vila Nova de Gaia, à hora da mudança de turno. Os trabalhadores saem com a máscara da dureza do trabalho por turnos (a empresa é de laboração contínua), apressam o passo ou aceleram. No portão estacam, mãos estendidas para a propaganda da CDU. Melhores salários, redução do horário de trabalho, regulação do trabalho nocturno e por turnos. “É bem preciso!” Há um consenso. Nisto, um trabalhador que se prepara para entrar. “Eu até acho bem reduzir o horário de trabalho para as sete horas por dia, 35 por semana, mas se calhar também é bom produzir mais…” Ora vamos cá ver: se os avanços técnicos e tecnológicos permitem às empresas produzir mais e mais rapidamente, por que razões se penalizam os trabalhadores com jornadas longas? “Sim, também tem razão…”

4. Acção de contacto com comerciantes e população na Vila de Avintes. “Ora pois claro, se a vida dos clientes melhorar, a minha também melhora!” É assim tão cristalino? É, basta ouvir o testemunho do dono de uma confeitaria/pão quente, quando lhe apontamos as propostas da CDU. Noutra loja, uma senhora dispara: “Tenho 63 anos e nunca votei!” Mas pode votar com uma certeza: não dói nada. Ela ri com a pilhéria e vem à discussão. “Não gosto, não me meto em política…” Pois, mas a política mete-se na sua vida, decide a sua vida, o seu destino. “Vem algum cheque aqui dentro?” Num café, a mulher aguarda a reacção à provocação. Seguramente. Se fizer as contas ao aumento do Salário Mínimo Nacional (mil euros já), ao aumento geral dos salários (em 15%, em pelo menos 150 euros) e ao aumento das pensões e reformas (em 7,5%, no mínimo em 70 euros para todos), já vê quanto pode preencher no cheque. “Ora com essa bem me respondeu!”     

5. A jornada termina com uma acção de contacto com trabalhadores da fábrica de calçado Klaveness, também em Avintes, a hora da saída. Enquanto esperamos, passam idosos no passeio diário, esticando as pernas e inteirando-se do movimento quase desusado (“Sim, eu sei, vejo cá com frequência militantes do PC”, atesta um) à porta da empresa. Outro cumprimenta com delicadeza e aceita o documento. Que é do PS e o seu voto “já está comprometido”, mas que “gostaria que a CDU tivesse mais deputados”, porque “essa gente é precisa para melhorar a vida das pessoas”. Nisto, de trás do edifício da fábrica começam as sucessivas golfadas de trabalhadores – uns apeados, outros motorizados, mas em geral disponíveis para receber o panfleto. Melhores salários, redução do horário de trabalho… “Ora aí está uma ideia que me agrada!” Pois então é só votar em quem propõe e em quem defende… “É o meu partido do costume!”. Então bom descanso!

6. Começou a série de debates televisivos. Ainda não será desta que os protagonistas serão capazes de discutir ideias com razoável respeito e urbanidade? E não será ainda desta que os moderadores são capazes de descolar as suas perguntas e insistências de uma noção particular de actualidade que talvez esteja desfasada das preocupações e interesses dos eleitores? Se perguntar não ofende, cá ficam duas perguntas…  

Mais informações na página da CDU - Distrito do Porto

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