Notas de pré-campanha (17)
1. A
jornada do dia, se me desculpam a preguiçosa recorrência e m matéria de muletas
narrativas, começa no cruzamento do Catulo. Há gente que vai aos afazeres, uma
dupla de polícias municipais em dificuldades inesperadas com a máquinas do
parcómetro (“As máquinas têm sempre razão”, explica-se um deles), outros que circulam
em passo lesto, recebendo com mais ou menos simpatia a propaganda da CDU,
outros recusando-a – sim, há disto, em todo o lado há gente que já sabe e outra
que não quer saber, há que conceder em democracia. Um grupo de reformados
junta-se à roda de um banco de jardim. Tema obrigatório: o problema dos valores
das reformas. Vem de lá a interpelação: “Mas se eu vim para a reforma aos 60 e
pico anos já tinha 46 anos de descontos, não devia ter a reforma por inteiro?!”
Que sim, evidentemente. A questão explica-se facilmente, digo, porque o PCP defende
que quem tem 40 anos completos de descontos deve ter direito à reforma sem
penalizações. “É mesmo assim?” É, basta escutar-nos. Eles escutam. Numa loja,
um homem bem-posto faz questão de vir à porta. Replica, numa prosápia condescendente,
que já tem o seu voto decidido, e tal e coisa, mas que respeita as diferenças e
tal e coisa, numa sinalização implícita, porém educada, de que quer é ver-nos
pelas costas. Nisto, uma jovem liberta-se do balcão e vem na nossa direcção. “Eu
quero esse panfleto!”, declara. Poderia contar outros casos. Mas detenho-me
neste, singular, que é o de um casal de idosos que estaca junto da brigada da
CDU. Diz ela: “Estava aqui a ver esta bandeira… O meu filho também anda nisto”.
E lá foi, revirando com atenção o documento que lhe entreguei.
2. Pedrouços,
Maia, contacto com a população e os comerciantes, começando e acabando à porta
de supermercados. A gente diz Vamos mudar isto para melhor, melhores salários,
melhores pensões… e ouve do outro lado “Isso é que era bom”, como se fosse um
impossível. Era bom e será possível. “Como?!” Será possível se o PCP e a CDU
tiveram mais força, se o PCP e ao PEV forem confiadas condições para
influenciar o posicionamento da força que tiver condições para governar. Um
casal de idosos, que começara por rejeitar o documento da CDU, apura a atenção.
A conversa flui, neste fim de tarde, já o lusco-fusco deu lugar à noite precoce.
E, nisto, a senhora desata em pedidos de esclarecimentos sobre como fazer se no
dia 10 de Março não estiver na sua terra – por sinal uma bela vila do Minho – e
quiser ir votar. Adiante, uma senhora começa por recusar a propaganda. “Desculpe!
Disse que era da…?” Da CDU, é claro. “Ah!, dê cá, por favor”.
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