Notas de pré-campanha (22)
1. Apetece
perguntar a este transeunte: É o senhor António Indeciso? E a senhora, que aí
vem com o agasalho apertado, a abrigar-se do ar frio que sopra do mar de Matosinhos,
é a Sr.ª D. Cristina Indeciso? E este jovem, será ele o José António
Indeciso? Nem um indeciso digno desse apelido vislumbramos entre os eleitores que encontrámos,
nesta manhã, nas ruas da cidade, numa nova acção de contacto com a população e
os comerciantes. Esta idosa simpática responde-nos com certa rispidez: “Sei
muito bem em quem vou votar, ora essa!” Portanto, não faz parte dos 20% dos estatisticamente
hesitam no acerto da cruzinha, segundo a sondagem do dia. “Eu quero saber o que
é que cada partido propõe para os problemas da deficiência!” Esta mãe que assim
fala, com uma filha com “uma incapacidade de 97%” – acredito ser inteiramente
verdade, fez questão de levar-me a casa e apresentar-ma – não vive senão a
decisão de fazer tudo pelos seus direitos. Vejam-se estas duas simpáticas
senhoras que nos acolheram numa loja: “Vamos ver, vamos ver, isto são já muitos
anos de decepções”, atalha uma. Então nós, que andamos aqui há 103 anos, já
sofremos o que sofremos, mas não desistimos, com perseguições, mortes… “E
torturas!”, reflecte a outra, “Pois tem razão: vale mesmo votar na CDU!”
2. À
tarde, acção de denúncia da situação de gritante subaproveitamento do Hospital
de Amarante, construído de raiz há uma dúzia de anos, mas que em nada melhorou
em termos de garantia de serviços e especialidades, que são menos do que as do
velho hospital no centro da cidade. Uma simples fratura de um dedo tem de ser
encaminhada para Penafiel, cuja capacidade, para 250 mil utentes, está já
esgotada, enquanto este nem capacidade (laboratorial e de pessoal) tem para
umas simples análises.
3. Ao final da tarde, acção de contacto com operárias à saída de uma fábrica de calçado em Amarante. Mais do que o ar genuinamente cansado, impressiona o escuro das palmas das mãos e dos dedos, impregnado na pele. É como se levassem a fábrica para casa, para as suas vidas, para as suas vidas duras. Bom descanso!... “Qual quê, ainda vou para casa trabalhar o resto do dia, e depois tratar da minha mãe doente!”, replica uma, quase agastada, ar resoluto, deixando o protesto no ar. É um manifesto. “Ora lá está: é que gente trabalha na fábrica oito horas e mais de outro tanto em casa!”, corrobora outra. É a dura realidade do outro lado do panfleto que oferecemos, mas que tem respostas para os trabalhadores, os idosos, as famílias.
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