Notas de pré-campanha (29)

 

1. A senhora, sorridente, toma o panfleto nas mãos e mira. “Gosto de ler tudo e tenho visto os debates na televisão – ajudam-me a decidir.” E o Paulo Raimundo, já viu? “Já sim senhor, é um senhor muito sério.” Corre em Freamunde uma manhã de plácida ilusão de Primavera e os clientes mais velhos das lojas gozam do vagar das compras possíveis (“Isto vai mal, não há dinheiro”, ouve-se dos comerciantes, entre votos de “boa sorte”). Uma idosa fala “com franqueza” que, sendo de esquerda, nunca votou na CDU. “Já o meu marido não falha! Eu tinha um irmão, que era mesmo comunista”, diz, com um tom discreto de orgulho. E volta a mirar o documento com as propostas da CDU. “Vou ler bem. Vamos lá ver se desta vez mudo.”

2. À porta de uma fábrica em Ferreira, as operárias precipitam-se para a rua em sucessivas levas. Quem mora perto vai almoçar a casa, “é uma sorte”. Vamos ao contacto, com as nossas propostas – aumento de salários, redução do horário de trabalho… “Isso é que era bom!” E olhe que é possível, por isso é que propomos. Uma colega fica um pouco à conversa, curiosa, passando os olhos pelo panfleto. O salário mínimo ganha ela. “Ai se for para os mil euros!” Vale a pena? “Claro! Vou ler bem isto, ainda bem que vieram!”

3. A tarde mantém-se ensolarada no Marco de Canaveses. Uma senhora distrai por breves momentos o olhar num canteiro de amores-perfeitos, perder de vista o neto ainda menino nas primeiras investidas na pequena bicicleta. Vamos mudar isto? “Claro, é bem preciso, mas não sei o que pensa o povo, que na hora de votar não acerta…” Num café, um homem levanta a cabeça dos jornais: “Tenham cuidado, que anda aí um salazarito!...” E desfia memórias amarguradas de outros tempos. “Tinha 17 anos e fui proibido de entrar aí num café onde só entravam doutores, porque eu era filho de barbeiro.” Uma lojista recebe-nos com uma pergunta em riste: “O que é que pensam das grandes superfícies abertas aos domingos e feriados?” Somos contra e já temos proposto o seu encerramento. Ela semeia em redor um sorriso e mostra páginas e páginas cheias de assinaturas, num abaixo-assinado com aquele objectivo. A luta continua!

Vamos fazer o funeral às políticas de direita? “Haja quem faça frente a esses!”, reage um trabalhador à saída de uma fábrica de urnas funerárias. Uma operária ri da graça e responde à letra. Depois põe um olhar mais sério: “Sim, é mesmo preciso enterrar as direitas!” E levanta o panfleto da CDU num sinal de anuência, misturando-se entre os colegas que prepara o regresso a casa, documento com as nossas propostas nas mãos. “Muito obrigado. É para ler mais logo.” Bom descanso!          

 

Mais informações na página da CDU - Distrito do Porto

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