Notas de campanha (2)

1. “Este não é o meu partido, mas é dos bons.” O sol da manhã, que entra da chapada na cafetaria do Terminal Intermodal de Campanhã, anima os passageiros à espera de embarque. Em baixo, no cais, o frio tolhe quem está mais próximo da viagem. É agora a zona de distribuição da propaganda da CDU. A aceitação é boa, a simpatia geral ganha em largos pontos a escassa recusa. Uma jovem fica a ler demoradamente as 12 principais propostas impressas no documento. Pretexto para conversa: então, o que lhe agradou mais? “Estava muito interessada em saber o que propõem para a Ciência.” É investigadora, bolseira, precária. E o que o PCP tem proposto na Assembleia da República é acabar com a precariedade, que atinge mais de 90% dos investigadores, o reforço do financiamento do sistema científico e tecnológico, a garantia de emprego científico… “Completamente de acordo.”

2. Acção de contacto com a população e comerciantes na zona de Campanhã. Simpatia geral. “Pode deixar aí mais do que um, olhe, ponha aqui nesta mesinha que as pessoas levam!” Na popular adega típica A Viela, uma inspiradora moldura expõe-nos o famoso Fado Operário. Vamos melhorar isto, melhores reformas, melhores salários? Um velhote reage, quase rendido: “Está difícil…” Mas não é impossível, pois não? Adiante, um comerciante lá tem as suas dúvidas. “Ui, vocês não chegam lá.” Então vamos fazer aqui um acordo: se não gostar de uma que seja das 12 propostas que aí lhe fazemos, não vota na CDU. Ele ri e toma o panfleto, abre, começa a ler. E coça a nuca. Bem, vou acabar de ler com calma.
3. Na zona do Largo de Soares dos Reis, está um casal ainda jovem encostado a uma parede a falar da vida, sabe-se lá de quê, não temos o condão de o antecipar. Melhorar os salários, reduzir as rendas e as… “Estávamos mesmo a falar disso, de rendas: pendem-nos 900 euros por um T2!” Há espanto e angústia nos rostos, reparo agora. A história, como a de milhares de jovens casais, conta-se num fósforo: têm uma filha a crescer, precisam de mais espaço, daquela privacidade de que um tal artigo da Constituição fala, procuram casa, os preços são incomportáveis, o que fazer? Pois o PCP tem feito propostas para conter os valores das rendas e das prestações bancárias, para promover a habitação pública para as várias camadas da população, para apoiar a construção cooperativa. “Pois, eu já votava à esquerda. Sendo assim…” Sendo assim, vale a pena considerar votar CDU. É um desafio. “Ai, eu cá só votei uma vez!” A fala é de uma cliente num estabelecimento da zona. Que não crê nos políticos, que são todos iguais… Então vamos ver: o PCP propôs os aumentos dos salários, a redução dos preços dos bens essenciais, etc. Era justo, não era? “Claro!” Pois, mas o PS e os outros votaram contra; sempre acha que somos todos iguais?
4. “É claro que aceito. Gosto de ler o que todos propõem.” A senhora idosa, professora aposentada, aceita com um sorriso aberto o documento da CDU. Não é nossa eleitora, bem se vê, mas leva o desafio do panfleto até ao fim: “as pessoas devem ler bem, para estarem informadas”. A conversa, à porta de um estabelecimento na Rua de Nossa Senhora da Luz, na Foz, avança pelos problemas da educação, da escola pública, do papel e das condições dos professores, pelas propostas do PCP no Parlamento que foram rejeitadas, pelo muito que ainda poderemos fazer. “O que é que fazem nesta zona?!” O espanto é de uma jovem mulher, que começa por estranhar a acção da brigada da CDU na zona e por recusar o panfleto. A zona é uma zona como outra qualquer, não conhecemos barreiras, e talvez o documento lhe diga mais respeito do que pensa. “Então diga lá.” Dizemos. Ela escuta, contraria uma ou outra ideia, encara a explicação, levanta uma dúvida, acolhe o esclarecimento. “Ora dê cá, sempre vou levar… Vamos lá a ver.”

Mais informações na página da CDU - Distrito do Porto

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