O direito à habitação não pode ser uma mercadoria(*)
O PCP orgulha-se do seu
património de luta pelo direito constitucional à habitação, segundo o qual
“todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão
adequada, em condições de higiene e de conforto e que preserve a intimidade
pessoal e a privacidade familiar”.
Coerente com essa posição de
sempre, o PCP tem insistido na exigência de construção de habitação pública e
no adequado financiamento.
Ainda na discussão do Orçamento
do Estado, voltou a propor a construção de mais 50 mil fogos até 2026, além dos
26 mil prometidos pelo Governo. Mas o PS reincidiu no chumbo, bem sabendo do
enorme atraso no programa 1.º Direito: Apenas estão concluídas 2 087
habitações e estão contratadas menos de 7 600.
O levantamento de 2017 para o
IHRU recenseou mais de 31 500 fogos “sem as condições mínimas de habitabilidade”.
Já nessa altura estava longe das necessidades. Só a Área Metropolitana de
Lisboa carecia de 26 mil casas.
Na Área Metropolitana do Porto, só
na cidade do Porto, mais de três mil famílias necessitam hoje de casa; na Maia,
há mais de 2 600 pedidos pendentes; em Matosinhos, superam as 1 700
famílias.
No encontro de Abril sobre
habitação, o Partido estimou em 100 mil o número de famílias em alojamentos
indignos no país.
Estes dados enfatizam bem a
exigência, de que, sendo um direito constitucional, a habitação não pode ser
tratada com mera mercadoria, como simples objecto de negócio.
Mas sucessivas políticas
subjugaram este direito ao mercado com todo o cortejo de perversidades e
sacrifícios para as famílias.
Em 2022, o volume de transações
de alojamentos familiares atingiu quase 31 800 milhões de euros. No terceiro trimestre de 2023, o índice de
preços da habitação aumentou 7,6%. Até Novembro, o montante de novos
empréstimos à habitação em 2023 atingiu quase 18 200 milhões de euros.
O valor mediano das vendas
atingia no terceiro trimestre 1 541 euros por metro quadrado e o dos novos
contratos de arrendamento chegava aos 7,25 euros também por metro quadrado.
O aumento das rendas previsto
para 2024 será de 6,94%, podendo ascender aos 9,37%. Ou mais, muito mais.
Com a Lei Cristas/Lei dos Despejos,
ponto-chave na liberalização do arrendamento, milhares de famílias estão a ver
multiplicados de forma forçada os valores das rendas, sob a chantagem do
despejo, e muitas ficam sem casa.
Em Outubro passado, a taxa de
juro implícita no conjunto de contratos de crédito foi de 4,433%, um aumento de
16,3 pontos em relação a Setembro. São brutais os custos para as famílias: do total
da prestação bancária, 60% correspondiam a juros.
Os juros explicam muito os lucros
obscenos da banca (12,1 milhões de euros por dia só nos cinco principais
bancos), que nomeadamente o PS e o PSD perpetuam, ao rejeitarem as propostas do
PCP de travão aos juros, spreads e comissões bancárias.
Assim como chumbam as propostas
do PCP de contenção das rendas, da protecção contra os despejos e de concessão
de apoios aos municípios para habitação e reabilitação urbana.
O PCP defende o apoio a
organizações populares, à autoconstrução e às cooperativas, que há década e
meia não executam novos empreendimentos.
O PCP está também solidário com o
movimento unitário que, com enorme crescimento e afirmação, está a desenvolver
iniciativas em defesa do direito à habitação e que, no próximo dia 27, promove
novas manifestações em vários pontos do país, exigindo casas para viver.
(*) Intervenção no Encontro Nacional do PCP sobre eleições e a acção do Partido, realizada hoje em Lisboa, subordinada ao tema "O combate pelo direito à habitação"