Notas de pré-campanha (8)
1. O dia começa com um interessante debate, na Escola Básica de Gueifães, com representantes de todos os partidos parlamentares, sobre os 50 anos do 25 de Abril e o seu significado. Entre as preocupações dos alunos, destaco as relacionadas com a emigração e a imigração. Saliento que as comunidades de imigrantes são boas para Portugal, não só pela ajuda que representam no trabalho, nas contribuições para a segura social, etc., mas também pelo enriquecimento que nos trazem em termos culturais e da experiência humana de cada um de nós.
2. Acção
de contacto com a população e os comerciantes no centro de Valbom, Gondomar. Numa
confeitaria, uma senhora de certa idade expressa algum cepticismo e verbaliza
um saudosismo estranho quando lhe falamos das principais propostas – aumentar os
salários, aumentar as pensões e reformas. “Isto na situação antes é que era…”
Antes, como, quando? “Antes, antigamente…” Então, a senhora antigamente estaria
aqui sentada na confeitaria, teria dinheiro para vir tomar o seu café? “Oh! Tem
razão, nada, não tinha.”
3. Noutro
café, um homem repete, quase exaltado: “Isto andar quase há 50 anos, ora agora
o PS, ora agora o PSD, sempre os mesmos a mandar, não pode ser!” E então, que
fazer? “É preciso dar a oportunidade a outros, à CDU. Boa sorte!” E votos também!
4. Está
uma chuvinha irritante. À saída de uma fábrica de confecções em Rio Tinto, ao
fim da tarde, as operárias estugam o passo, visivelmente cansadas e “fugindo”
para as canseiras que ainda as esperam em casa. Tudo a aumentar, só a carteira
está vazia. “Pois está, está, o dinheiro nem aquece!”, replica uma. Aumentar os
salários. Outra: “E já é tarde!”. Uma colega estende a mão para o desdobrável
que um camarada oferece. “Tem alguma nota dentro?”, ri. Mas tem propostas que
valem muitas notas. “Então já não é mau!” Bom descanso!
5. E ainda: algures, que não vem ao caso, cruzámo-nos com uma cantoneira da limpeza/higiene urbana, trabalho duro, frequentemente insalubre. Quem quererá tal emprego?... No rosto, estão gravadas as rugas de uma fadiga e de um sacrifício de anos e anos. Conta-nos por quanto tem passado e fala-nos do presente árduo. Vem de longe, de bem longe, horas de viagem, “pega” às 8:30 e “despega” às 16:30. Salário pelo centro de emprego: 400 e pouco euros. Mais o subsídio de alimentação e 30 euros para o passe. É pouco, muito pouco. É muito, muito grande a injustiça. Ainda me quereis falar do antigamente? Lérias!
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