Notas de pré-campanha (9)
1. Pela manhazinha, as escadas rolantes que, vindas da cave da estação ferroviária de Campanhã, despejam às golfadas magotes de gentes que vêm das lonjuras do Minho, do Douro, de Ovar ou até de Aveiro, alimentando as linhas do metro e dos autocarros, parecem uma máquina de triturar ao contrário os trabalhadores que vão a caminho de mais um dia de labuta. Alguns parecem autómatos, muitos ensonados, olhares fixos num ponto imaginário, ensimesmados, antecipando uma jornada pesada de trabalho a somar tempo à viagem. A disposição para escutar a brigada da CDU para o contacto com os utentes dos transportes é menor. Compreende-se. Mas há muitos sorrisos e os cumprimentos multiplicam-se. Esta mãe, por exemplo, que aqui vem com um petiz ao colo e outro pequenote pela mão, achou agilidade bastante para avançar na minha direcção e pedir o documento que oferecia aos passantes. Outra mulher desejou-nos com um sorriso largo: “Vá, camaradas, força! Vamos mudar isto!”. É tão gratificante ouvir isto!
2. No
Campo 24 de Agosto, o corre-corre entre o metro e os autocarros, entre os
autocarros e o metro, replica-se. A cidade mexe-se, os trabalhadores vão a
caminho da labuta, há quem ultime uma bucha numa das confeitarias. “Bom sorte!”
E votos… “Pois claro, que vos – nos corra bem!”. A um canto, uma mulher mais
jovem do que aparenta, aguarda para seguir o rumo do resto do dia. Percebe-se
sob o casaco de malha a bata de uma empresa de limpezas e, no rosto, a máscara
do cansaço da jornada madrugadora. Aumentar os salários. “Como?” Explico as
propostas que o PCP apresentou no Parlamento: aumento do salário mínio para os
mil euros, dos salários em geral em pelo menos 150 euros para todos… “Ah!, isso
é muito bom”, entoa num Português açucarado. “Pena não poder votar aqui, sou
brasileira”. Mas tem amigos portugueses? Passe a palavra. “Vou passar, sim!”
3. Entre
o Cais do Ouro, na margem direita do Douro, e o Cais da Afurada, na outra
banda, há uma estrada líquida. Distância de uma flecha, ou de uma lancha. Penso
nisto quando um homem, curioso pela azáfama da brigada da CDU que prepara e
coloca pendões (foto) a reclamar a urgência da retoma do transporte fluvial
entre as duas margens, abrupta e inexplicavelmente interrompido há mais de dois
anos, se abeira de nós. Armo uma ou duas perguntas. Que sim, é dali mesmo, do
Ouro; que sim, tantas vezes andou, de cá para lá, de lá para cá; fosse para ir
comer aos restaurantes de lá, fosse para outras vidas, que isso é outro
assunto. Mas seja porque ainda hoje há muita gente que vive numa margem e
trabalha na outra, e vice-versa, e dá uma volta enormíssima, e gasta
combustível, e polui, e entope o trânsito, para ir ou vir trabalhar. Isto disse
o homem, por estas ou outras palavras, que vão dar ao mesmo. Por isso a CDU
realizou uma importante acção, com tribuna pública, em defesa da travessia do
Douro, a assegurar, claro está, pela STCP – Sociedade de Transportes Colectivos
do Porto, que deveria ser o operador metropolitano de transportes.
4. Importante,
oportuna e útil reunião com a Direcção da Associação Sindical dos Profissionais
da PSP (ASPP), aprofundando e actualizando a informação sobre os problemas da
classe e das condições em que são prestados os serviços às populações. Muito
para além da espuma dos dias e das evidências noticiosas, importa conhecer as
realidades e as suas cambiantes. Por isso sabemos do que falamos quando fazemos
propostas na Assembleia da República.
5. O enorme portão branco da “fábrica de tripas” em Arcozelo, Gaia, desliza com um estrondo contido para dar a passagem à horda
de trabalhadoras que termina o turno. Vêm em grupos alegres (lá diz a cantilena
“a gente ganha pouco mas diverte-se muito”) e em geral disponíveis para uma
conversa rápida, mesmo antes de uma vista de olhos ao documento. Por exemplo: é
preciso melhorar os salários, sim, “mas também é preciso trabalhar menos horas”,
reivindica uma trabalhadora. E outra: “Pois, que não é só a Função Pública que
tem direito!” Pois o PCP tem proposto para todos. “A sério?!” Sim, e também os
25 dias de férias. E outra: “Isso é que era bom, mas não é para o nosso tempo!”
Vamos então trabalhar para que já depois de 10 de Março isso seja possível. Dar
mais força à CDU!
6. Fechando
a jornada pré-eleitoral do dia. Ao final da tarde, acção da CDU na rotunda da N109 de
acesso à A29, uma das ex-SCUT da região do Porto submetida à praga das
portagens, penalizando pequenas e médias empresas e também as populações. A
proposta da equipa da CDU é muito simples – e muito honesta, pois a faixa e as bandeiras
identificam muito bem os promotores: “buzine contra as portagens”. E não é que
os automobilistas buzinaram mesmo e em força?!