Notas de pré-campanha (14)

1. “Olhe, a gente tem de se habituar a viver com pouco.” A mulher, casa dos cinquentas e tais, sessentas e pouco, vá lá saber-se, que isto de marcas de rosto e de canseiras nem sempre é cristalino para quem se põe a adivinhar idades, devolve-me em conselho resignado o que lhe propusera de avanço (Vamos lá ver se melhoramos isto, melhores salários, melhores reformas?…). Mas a senhora tem direito a querer viver com mais, não são só os ricos que podem! “Lá isso…”, murmurou, surpreendida, no meio do estreito corredor de bancas na feira da Póvoa de Varzim. Adiante, um comerciante de discreta tez magrebina interrompe-me a abordagem: “E há empregos?!” Procuro reatar a linha de pensamento e para introduzir uma resposta. Volta a cortar, com uma pronúncia ligeiramente arranhada: “E há empregos para todos, para os brasileiros que estão entrar?...” Tem de haver – e o senhor de onde vem? “Sou marroquino, mas já estou cá há 14 anos!” Mas, sabe que acolhemos todos bem, que todos são bem-vindos? Ele ficou a olhar-nos e, seguramente, à fraternidade estampada nas nossas bandeiras. E, não, os partidos não são todos iguais.

2. À segunda-feira, o Mercado Municipal da Póvoa de Varzim arrasta-se num silêncio inerte (não há peixe fresco, nem carne, dinheiro também falta, já se vê). Uma vendedora aproveita a acalmia imposta para requintar nas arrumações e refazer a ordem da banca. Vamos ver se isto melhora? “Se eu acordar de manhã, já estou bem!” Mas poderemos melhorar isto mais, não é verdade. “Lá isso… E então o que me quer dar? Ah!, é da CDU!” Isto vai, camaradas, isto vai!

3. À tarde, visita a um troço do litoral de Árvore, onde a energia do mar tem prestado os seus sustos e põe em evidência os riscos associados à construção na zona dunar, completada por outra, mais demorada e muito informativa, à Reserva Ornitológica do Mindelo, integrada na Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde. Continua a sofrer maus-tratos. E não são apenas as investidas do mar e os galgamentos e ruturas no cordão dunar. É muito preocupante que continue o pisoteio mesmo em troços de duna recuperada (foto), que invasoras como os chorões, as acácias e a erva-das-pampas continuem a apoderar-se do seu território e a ameaçar a sua biodiversidade. Assim como persistem episódios de deposição de lixos e entulho e os percursos continuam sem tratamento adequado – preocupações de Vítor Gonçalves, do FAPAS e nosso guia nesta excursão. Tudo isto pretexto para salientar a importância do regresso do Partido Ecologista “Os Verdes” ao Parlamento.


Mais informações na página da
CDU - Distrito do Porto

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?