Jornalismo: 43 anos e depois
No dia em que completo(aria) 43 anos de exercício da profissão de jornalista, estando embora legalmente impedido de exercê-la, por força das funções de deputado à Assembleia da República que ora desempenho, gostaria de dirigir aos meus camaradas de profissão, e em particular aos meus camaradas do Jornal de Notícias, algumas palavras breves.
Não obstante muitas desilusões,
continuo a acreditar que a profissão que escolhi continua a ser a mais bela e
mais completa – sentido humanístico – que alguém poderia escolher.
Tive as oportunidades de colocar os
pés na diversidade de pisos e de “altitudes” que nenhuma outra profissão me
proporcionaria – da mais profunda, irrespirável e arriscada frente de desmonte
numa mina à mais requintada alcatifa algures numa estratosférica torre de hotel
de não sei quantas estrelas. Em todos os cenários, aprendi que não há nada como
ter realmente os pés assentes na realidade.
Tive também inúmeras ocasiões de
contactar, de conhecer e de procurar aprofundar a informação e o conhecimento
em múltiplas áreas. Respeitados os devidos limites e as óbvias limitações,
desde logo as minhas próprias, posso atrever-me a afirmar que o Jornalismo é,
se levado a sério e com honestidade, a profissão mais completa (enciclopédica?...)
que se poderia almejar.
Não me faltaram oportunidades
para conhecer lugares, pessoas, organizações, anseios, reivindicações, projectos,
utopias, propostas e realizações. Devo agradecer pelo enriquecimento precioso e
insubstituível da minha personalidade como ser humano e como cimento a minha
consciência cívica e política.
É a esse enriquecimento contínuo
que devo muito do que fui enquanto membro de comissão de trabalhadores, de
conselhos de redacção, delegado sindical, dirigente sindical e membro do Conselho
Deontológico, assim como autor de inúmeros (dezenas?, centenas?) artigos e
comunicações sobre problemática do Jornalismo, do Direito da Comunicação, da Ética
e Deontologia da Profissão.
Se tivesse de encerrar hoje esse
importantíssimo capítulo da minha vida, até pelo espaço temporal que ele representa
já, poderia afirmar que fui feliz.
Sucede que não há fórmula pretérita
que possa dissimular o presente dramático que a Redacção a que pertenço – o do
JN – está a viver.
No dia em que continua por pagar
o salário de Dezembro passado, que não se sabe quando será pago o chamado
subsídio de Natal e, especialmente, quando o futuro se não conhece, não posso
deixar de enviar uma comovida mensagem de agradecimento pelo exemplo de resistência,
convicção e luta que os meus camaradas estão a dar e que terá uma
importantíssima expressão na greve convocada para o próximo dia 10 em todas as
publicações do Global Media Group.