Sobre a contra-efemeridade da memória

O meu amigo Manuel tem uma forma estranha de ler os jornais: folheia-os, demora-se um pouco sobre aquilo que chama a sua atenção - um título, um lead, uma parte do texto captada de repente, uma legenda; se for o caso, pega no abre-cartas e destaca a página, dobra-a e coloca-a de lado; o que sobra dessa triagem vai direitinho para o saco destinado ao eco-ponto. Ainda hoje lhe perguntei se lerá tudo o que cortou. "Umas coisas sim, porque me interessam já; outras não, porque verificarei realmente não valerão a pena; outras, talvez um dia, se derem jeito", disse-me. E acrescentou: "Há quem pense que os jornais são produtos efémeros, porque já se esqueceu como se reúnem, ligam e interpretam memórias".
.

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?