O peso das palavras em jornalismo

Mais um problema prático do jornalismo, ou um modesto subsídio para uma discussão sobre a independência e a imparcialidade dos jornalistas:
Há muitos anos, discutindo-se o problema da imparcialidade dos jornalistas, era inevitável a querela semantico-ideológica em torno de certas opções jornalísticas na construção (estritamente técnica, logo objectiva...) de algumas notícias. 
Por exemplo: Escrevermos que "a polícia carregou sobre os manifestantes" não é a mesma coisa que escrever "os manifestantes envolveram-se com a polícia". 
Outro exemplo, mais subtil mas nem por isso despiciendo, é o das expressões que conferem uma "dimensão" nem por isso objectiva a acontecimentos como as manifestações, comícios, vítimas de certos acontecimentos. Vejamos um caso: se escrevermos mil manifestantes tem a mesma força que um milhar de manifestantes
Têm-me ocorrido estes exemplo - e poderia dar muitos mais... - quando leio que a empresa Xis decidiu "descontinuar" o produto Ene, quando se calhar teria "mais força" (e outras consequências, não?!) dizer que deixou de fabricá-lo; ou quando a expressão "descontinuar" se aplica a uma publicação periódica, quando antigamente se escrevia simplesmente "encerrar"; ou, pior, muito pior (e não é uma leitura necessariamente ideológica...), é quando se escreve "dispensar" trabalhadores em vez de dizer "despedir".
Como se calcula, poderia ir por aí fora, não faltando exemplos de palavras e de expressões cujo peso adquire significados e alcances muito diversos conforme as circunstâncias...
Talvez para outra altura.
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