Lumpenelectrónico

É um azar diabólico almoçar (ou jantar) num restaurante com dois os três televisores sintonizados cada qual num canal diferente dos demais e com um sistema de altifalantes jorrando música de duvidoso gosto proveniente de um outro aparelho e em alto volume. Acontece muito e chateia bastante.
Mas pior, muito pior, é quanto o restaurante sintoniza o(s) receptor(es) de televisão num reality show no qual os concorrentes parece que fingem que são todos amigos, mas, pelos vistos, fartam-se de espetar facadas uns nos outros para gáudio dos telespectadores e desatam em alta gritaria a horas convenientes à programação da estação.
Tive o azar de assistir hoje a uma coisa dessas (obrigado, mas não frequento por minha iniciativa) e inquietei-me com o espectáculo deplorável dentro da caixinha mágica e com os comensais arregalando a orelha e assestando os olhos no receptor. Parecem aqueles vizinhos salivando por zangas alheias e atentos a todos os ruídos do prédio. Se o velho Carlos das Barbas vivesse isto, talvez lhes chamasse o lumpenelectrónico.
Mas pior, ainda muito pior do que isto, é a coisa ser mascarada de assunto com interesse jornalístico - e vá lá saber-se o que isso significa!
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