A Economia, o Estado Social e a titulação de entrevistas

Independentemente de outros comentários que pudesse fazer sobre a entrevista que o professor de Economia e antigo ministro da Economia (de um governo de António Guterres) Daniel  Bessa concede hoje ao "Público", pergunto se o título, pelo menos na versão em linha (Daniel Bessa: "A economia está a ser aniquilada pelo Estado social") condiz absolutamente com a resposta do entrevistado à pergunta que lhe foi feita e que estará na origem do mesmo. 
Ei-las:
"P- Numa perspectiva mais transversal, acha que a economia portuguesa consegue suportar um Estado social como o que construiu desde os anos 1970?
R- Acho que, no mínimo, tem de ser moderado, durante algum tempo. A economia portuguesa conseguirá sustentar esse Estado se crescer, e se gerar mais rendimento. Neste momento, a economia portuguesa não só não consegue sustentar esse Estado, como está a ser aniquilada por ele."
Pode parecer uma minudência, mas creio que Daniel Bessa diz muito mais do que a simplificação que o título da entrevista traduz, opinião essa que, nalguns aspectos, alguns de nós partilharíamos numa perspectiva muito clara: a urgência da dinamização da actividade produtiva, que é o que realmente faz crescer a Economia. E esse é um aspecto nuclear - e um aviso àqueles que julgam se se resolvem os problemas do país atacando "o Estado Social".
Sei, por experiência, que muitas vezes é difícil traduzir em título a densidade de uma ideia, de uma concepção, de uma reflexão. Por isso percebo a tentação da simplificação. Mas este título pode gerar a ideia de que Daniel Bessa pensa que "o" Estado Social - ele próprio, o conceito de Estado Social, etc. - aniquila a Economia, sejam quais forem as condições. Do que só poderia resultar a consequente posição de que  a existência do Estado Social é simplesmente incompatível com a Economia. E não cometo a injustiça de colocar a hipótese de que é isso que Daniel Bessa pensa.
Concluindo: quero aqui discutir um problema prático de jornalismo - em fraterna reflexão sobre o trabalho de camaradas meus - e nem sequer admito que o problema possa ser outro.
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