Ucrânia: Os telejornais unificados e liberdade de informação

O diário espanhol “El País”, que está a muitas milhas, a anos-luz, de ser suspeito de simpatia com a Rússia, publica hoje um interessante trabalho sobre o monopólio da informação detido e controlado pelo poder ucraniano exercido através do “telejornal” único “de Zelensky” e transmitido por todos os canais.

Parafraseando o parágrafo que lança o artigo (acesso reservado a assinantes), poderemos imaginar o que seria em Portugal “um programa de 24 horas emitindo as mesmas notícias, supervisionadas pelo Governo”, na RTP, na SIC, na TVI…, numa verdadeira “telemaratona” de telejornais fundidos num só.

Ora, “isto acontece na Ucrânia desde Fevereiro de 2022, quando começou a invasão russa. A presidência ucraniana decretou, devido à excepcionalidade da situação, a criação de um serviço informativo unificado que cobre a maior parte do dia” e que é retransmitido pelos canais de televisão do país.

Do perfil do meu camarada Bruno Amaral de Carvalho, o único jornalista português que se atreveu a sê-lo inteiramente – e correndo enormes riscos – no Donbass, transcrevo, com a devida vénia, grande admiração  e muita estima, os seguintes trechos:

“Apenas 17% dos ucranianos confiam na informação dada pelos canais que não foram proibidos. A intervenção russa foi pretexto para os líderes políticos sentados em Kiev enterrarem de vez qualquer vislumbre de democracia na Ucrânia. Para além da proibição de qualquer partido dissidente, Zelensky impôs a censura aos órgãos de comunicação social.

Enquanto os países ocidentais fecham os olhos às diatribes anti-democráticas dos governantes ucranianos, incluindo a normalização da existência de batalhões neonazis dentro do exército regular, parece importar pouco a existência de um telejornal unificado para todos os canais de televisão que apenas diz aquilo que as autoridades querem que se diga. Qualquer meio que não aceite a supervisão de conteúdos ditos informativos por parte do Estado ucraniano perde o direito à licença para transmitir por cabo ou pela internet.

Agora, um estudo de opinião do Centro ucraniano Razumkov mostra que 51% dos participantes não dão credibilidade a estes telejornais e entendem que não têm relevância como fonte de informação. Na Ucrânia, só 17% pensa o contrário. A maioria prefere acompanhar a guerra através de diversas contas nas redes sociais.”

Para que conste.


PS: Outras entradas nesta blogue em referência ao jornalista Bruno Amaral de Carvalho.

 

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