Incêndios: o pilar prevenção tem mesmo importância
Tarde, mas expectáveis, vieram os grandes incêndios. Encontraram vegetação abundante e seca, tempo quente, velocidades do vento elevadas, humidade relativa do ar muito baixa: condições explosivas.
Quem sabe destas coisas, costume resumir
tais condições à “regra dos três 30” – temperatura do ar superior a 30 graus Celsius
(ºC); velocidade do vento superior a 30 quilómetros por hora (Km/h) e humidade
relativa do ar inferior a 30%.
Mas que há muitos anos se pronuncia sobre as
condições favoráveis à rápida e extensa propagação dos incêndios,
permitindo-lhes percorrer áreas inimagináveis para quem estiver por dentro do
assunto, também tem chamado a atenção para as causas estruturais.
Tenho, no meu acervo (profissional) de
entrevistas, reportagens, notícias e artigos, mas também de colóquios que frequentei e sabatinas que me enriqueceram, declarações e explicações de muitos
responsáveis, nomeadamente da chamada Protecção Civil, chamando a atenção para
o (não por acaso) “pilar da prevenção”.
De que falam? De atempadas e bem
localizadas faixas de gestão de combustível, de aceiros e sobretudo de uma
adequada compartimentação dos espaços rurais e florestais, em mosaicos que
oferecem resiliência e, portanto, de um judicioso ordenamento da floresta e do
território.
Esta ladainha remete para a extrema
importância da preservação prática da floresta de uso múltiplo, do privilégio
que devem ter as espécies folhosas autóctones, do cuidado e dos limites
estritos aos povoamentos altamente vulneráveis e propagadores que são as
monoculturas de pinheiro-bravo e de eucalipto.
Não é delírio de “fundamentalista verde”, como
gostam de catalogar os agora governantes e seus suportes parlamentares.
As imagens dramáticas e intensas que nos oferecem os meios de comunicação social nestes dias e nestas noites, mostram com indesmentível eloquência as silhuetas de eucaliptos embebidas em chamas (a ilustrar este texto, vai, por amostragem, uma excelente foto "furtada" ao JN*, com a devida vénia), ou já os esqueletos drásticos nas paisagens de cinza.
Nesta hora, como em todos os balanços – e com
justo destaque para as vidas ceifadas, o sofrimento dos feridos e as casas e outros
bens perdidos –, não podemos deixar de reflectir sobre as causas dos incêndios,
melhor, das ignições.
Mas temos obrigação de encarar de uma vez
por todas a urgência de corrigir pelo menos as condições (estruturais) que oferecem
ao fogo pasto extenso e o tornam tão destrutivo.
PS:
#1: Antes que me venham com a treta segundo a qual as explorações “ordenadas” de eucalipto “são as que menos ardem” (citação rigorosa do que tenho ouvido…), convido-vos a ler bem os dados sobre as áreas de povoamento ardidas.
#2: O actual Governo e os seus suportes parlamentares afadigaram-se, nos primeiros tempos, numa defesa acirrada do lóbi do eucalipto e a fustigar os "fundamentalistas". Talvez seja útil extrair agora alguns lições...
OBS:
* Talvez por inépcia minha, não consegui identificar o autor da foto. Mas agradeço muito a benevolência para com o meu abuso