Ucrânia: um poder de fogo em risco de descontrolo

Marta Yuzkiv no seu batalhão (foto, com a devida vénia: Anton Skyba/BuzzFeed News) 

A Ucrânia está a brincar com o fogo, tendo em curso uma campanha de mobilização de 80 mil a 100 mil voluntários civis que estão a ser treinados por elementos das forças regulares e também por grupos paramilitares privados – com ligações neonazis – para constituírem as “Forças de Defesa Territorial” e defenderem “a pátria” de uma “invasão russa”, que a propaganda ocidental continua a assegurar estar próxima. Em Janeiro, ou Fevereiro…

Para dar força e obter uma espécie de legitimação internacional para o seu programa de militarização da sociedade e de ódio nacionalista anti-russo, lançou, nos últimos dias, uma intensa campanha de propaganda à escala planetária, organizando “coberturas jornalísticas” de importantes meios de informação internacionais a campos de treino nos arredores da capital, Kiev.

Uma evidência do carácter organizado dessas coberturas está no facto, por exemplo, de uma exaltada médica, Marta Yuzkiv de seu nome, alçada a heroína do batalhão, se multiplicar em declarações a múltiplos órgãos internacionais e difundidas em dias diferentes – à agênciaespanhola EFE, no dia 19; ao portalnorte-americano BuzzFeed News, no dia 21; ao jornalnorte-americano “The New York Times”, no dia 26; à agênciaFrance Presse, ontem.

Nem todos souberam manter o distanciamento necessário e a generalidade alinha na narrativa da iminência de uma invasão russa, relativizando os riscos gravíssimos não só de uma escalada de tensão, mas também da extensa militarização em curso, com 255 mil soldados das forças regulares, 900 mil reservistas, 90 mil paramilitares e 80 mil a 100 mil civis voluntários armados.

A insuspeita cadeia alemã Deutsche Welle (DW) salienta a multiplicação da militarização da população civil em vários países da região e chama a atenção para os elevados riscos da multiplicação de milícias – com a deflagração de confrontos descontrolados – e da banalização e descontrolo da posse de armas, incluindo de guerra, por civis – traduzindo-se em incremento da criminalidade, suicídios e violência doméstica.

É em alturas como estas que os media devem demonstrar um real distanciamento crítico em relação aos acontecimentos. 


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