"Apartheid" de viagens

Foto: ONU/Evan Schneider

O secretário-geral das Nações Unidas e o presidente da comissão da União Africana adjectivaram da única forma possível - "'apartheid' de viagens" - a imposição do confinamento aéreo à África do Sul e a outros países da África Austral, por causa da variante ómicron do coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19.

A alusão explícita de António Guterres e de Moussa Faki Mahamat ao regime segregacionista (de "desenvolvimento separado") imposto durante décadas pela minoria branca ao povo sul-africano traduz de forma tão crua quanto real a violência da hegemonia dos países ricos e as profundas desigualdades no acesso a bens tão vitais como as vacinas para travar a pandemia: apenas 7% da população do continente africano está vacinada.

Não há apelo às consciências que trave o egoísmo, nem a evidência de que nenhum país é uma ilha que convença da gritante urgência da vacinação em massa como única forma de conter esta sucessão de vagas.

Continuamos a aprender muito pouco com a História. Receio que continuemos a pagar muito caro tamanha obstinação.
   

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