Debates televisivos: o poder definitivo de influenciar as massas

Os operadores de televisão, incluindo o de serviço público, isto é, a RTP, possuem o enorme poder de decidir quem e em que condições acede ao "privilégio" de apresentar e discutir os seus pontos de vista. Tal poder é especialmente sensível - e mais decisivo! - quando está em causa a difusão de mensagens e de debate de conteúdos políticos destinada às grandes massas, sabendo-se quão minguados estão hoje os níveis de leitura de jornais. 

Tal poder é ainda mais sensível em períodos como este, em que se espera os partidos e coligações concorrentes às eleições legislativas do próximo dia 30 exponham o que propõem e se submetam ao escrutínio e à discussão das suas propostas, mas também que os meios de informação cumpram o seu reconhecido papel de informação e de esclarecimento.

Os três operadores anunciaram recentemente um acordo sobre a realização de um amplo conjunto de debates que justifica críticas, como as que o PCP acaba de fazer:

PCP rejeita discriminações na organização dos debates eleitorais televisivos

O PCP reiterou hoje às direcções de informação da RTP, da SIC e da TVI a sua discordância com o modelo de debates eleitorais que adoptaram, e comunicou a disponibilidade do Secretário-Geral do PCP nos debates que sejam realizados em canal generalista.

É conhecida a posição do PCP face à importância e ao papel que os órgãos de comunicação social assumem nos processos eleitorais: reconhecimento do papel e contributo para o esclarecimento sobre o que defende e propõe cada força política para o País com garantia de igualdade de oportunidades no tratamento.

A proposta de debates formalizada pelas direcções de informação da RTP, da SIC e da TVI não garante princípios básicos de imparcialidade, assumindo na sua organização que existem partidos de primeira (PS e PSD) e de segunda categoria. Um modelo assente na atribuição aos primeiros, e apenas a estes, a prerrogativa de debater com cada um dos restantes em canal generalista, com abissal diferença de audiências, como pela concepção de um inaceitável debate entre putativos candidatos a primeiro-ministro – desvirtuando a natureza das eleições legislativas.

O PCP, tal como em 2019, assumiu a sua disponibilidade para participar na procura de soluções de organização de debates eleitorais que garantissem condições de igualdade e tratamento não diferenciado das diversas forças políticas, criando condições para o esclarecimento das propostas e posições de cada força política, contribuindo para a formação livre e não condicionada da opção de voto de cada um. Nesse sentido, o PCP fez a proposta de um modelo de debates (três) com o conjunto das forças políticas que poderia ser promovido pelas estações de televisão envolvidas, e que não foi considerada.

Adoptando a posição que já tinha manifestado nas eleições legislativas de 2019, o PCP recusa assumir-se como força política menorizada ou menorizável, mantendo a disponibilidade para participar nos debates que sejam realizados em condições de igualdade entre as várias forças, tendo já confirmado a presença no debate com o conjunto das candidaturas que elegeram representação nas últimas eleições legislativas agendado para dia 17 de Janeiro pela RTP, e manifestando desde já disponibilidade para participar em outros com características idênticas que outras estações de televisão decidam promover.

Pelas razões expostas, o Secretário-Geral do PCP estará disponível para participar nos debates que sejam realizados em canal generalista, o que, de acordo com a proposta feita pela RTP, SIC e TVI, corresponde aos debates previstos para os dias 4 e 12 de Janeiro.

20.12.2021

O Gabinete de Imprensa do PCP


Aqui, pode consultar algumas perguntas e respostas muito pertinentes.


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