A RTP e o caso Rendeiro: o ridículo também mata o Serviço Público de Televisão

 


A detenção e a provável extradição do ex-banqueiro João Rendeiro continuam hoje a alimentar em copiosa torrente o caudal noticioso, designadamente dos canais de televisão, as mais das vezes em volumes e opções “editoriais” muito discutíveis, a começar pelo operador de Serviço Público.

No “Jornal da Tarde” de hoje, a RTP não só manteve o assunto como principal matéria noticiosa, com meia hora dedicada na abertura (e não haveria notícia mais importante?), mas também foi ao ridículo de colocar enviados especiais em Durban, para “perceber” como reagia a comunidade portuguesa na África do Sul à ocorrência.

O ridículo é mais grave porque, além de ser discutível o interesse noticioso da coisa, a RTP nem sequer cuidou de fazer uma recolha e uma avaliação prévias de informações sobre uma eventual “reacção”, no sentido de aferir da sua importância e da sua pertinência noticiosa, isto é, se haveria realmente notícia.

De facto, pôs no ar, em directo, via Skype, a equipa a fazer perguntas na associação portuguesa de Durban, recolhendo o que pareceria óbvio. “Não sabíamos que estava aqui, nem tínhamos de saber”, respondeu um dirigente, para acrescentar, pouco depois: “Temos coisas mais importantes para fazer”.

Talvez o critério “editorial” faça sentido na luta desenfreada pelas audiências a que se entregam continuamente os operadores privados (ah!, e a RTP também...). Mas, discutindo-se seriamente a real relevância para o público de uma tal iniciativa, não creio que caiba a um telediário de serviço público prestar-se a este tipo de fait divers que nada acrescentam à compreensão dos factos e da realidade.

ADENDA - O "Telejornal" apresentou uma reportagem mais completa e um novo directo. Não fiquei convencido da sua utilidade. 

 

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