Diário Off (11)


Entrou, politicamente eufórica, a segunda fase de desconfinamento. Ainda dizem que “vai ficar tudo bem”, mas há cada vez mais quem acredite menos nisso. Sinais da nova normalidade. Uma senhora que é voluntária numa associação de ajuda a pessoas com necessidades, modo de dizer que são pobres, ou caíram na pobreza, contou que estão a retomar plenamente a actividade porque há mais gente na pobreza. Falou de casais que até faziam férias no estrangeiro; de repente, ficaram no desemprego.

Marcelo Rebelo de Sousa faz de conta que nada se passa com as próximas eleições presidenciais e repete o número do faz-de-conta-que não-é-recandidato, alimentando aquela espécie de fenómeno que já não é fenómeno a que os media gostam de chamar tabu. Mas o pior de tudo nele é a forma capciosa como fornece nutrientes ao populismo com afirmações, como a que produziu, segundo a qual as presidenciais – e em particular a sua recandidatura – é uma questão que “não preocupa minimamente os portugueses”.

Por seu lado, o secretário-geral do Partido Socialista, ora nas vestes de primeiro-ministro, ora com o ar de dirigente-não-te-rales-que-o-bloco-central-é-um-seguro-de-vida lá veio com a conversa de que já nas anteriores presidenciais o PS não apoio nenhum candidato. Isto, ao lado do presidente da Assembleia da República que invoca esse mesmo estatuto para alegar estar a leste das actividades e decisões partidárias, instantíssimos depois de jurar fidelidade à declaração de intenção de voto no Prof. Marcelo feita há ano e meio.

Faz correr ainda tinta o anúncio, ontem, pelo secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, de que o PCP vai realizar um comício em Lisboa, no dia 7 de Junho, anúncio esse pontuado com a justa observação de que “era o que mais faltavam que neste momento se procurasse cercear as liberdades democráticas”.

A habitual horda anticomunista e antidemocrática lá soltou a sua enxurrada de impropérios e não há quem falte a reclamar a ilegalização do partido e fazer outras aberrações repugnantes. Talvez devemos reflectir muito seriamente sobre a utilidade (para quem, para que projectos e intenções) das caixas de comentários às notícias dos meios de informação em linha.

O Diário Off regressa na quarta-feira.

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