Quatro desafios para os jornalistas

A convite (muito amável e que me honra) da Secção de Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, estive ontem, ao serão, na tertúlia “Conferências da Imprensa”. Propuseram-me que falasse dos “Desafios Actuais dos Jornalistas”. Discorri sobre quatro, dizendo, em síntese, o que segue de forma muito sumária.
1.º - Emprego – Está limitado por um mercado de trabalho e por um sector cujas dimensões se mostram incapazes de absorver o elevado número de diplomados debitados anualmente pelas escolas universitárias e politécnicas de Jornalismo, Ciências da Comunicação, Comunicação Social e afins. Mas não é só por isso que se verifica uma séria contracção nas contratações/recrutamento de jovens a iniciar a profissão: é também porque se agravam as tendências para o emagrecimento das redacções e para a precarização.
2.º - Credibilidade – As limitações do espaço informativo e do tempo destinado à recolha de informação e a erosão das redacções conduzem à superficialidade do tratamento jornalístico. A superficialidade é o pior inimigo da credibilidade. Relacionado com estes factores está o pendor excessivamente polivalente do jornalismo (voltamos ao paradigma do jornalista especialista de generalidades de que nos queixávamos há 30 anos?), no sentido que todos – ou quase todos – tratam no mesmo dia temas demasiado diversos, sem que tenham sequer tempo e condições para uma preparação que os identifique com os temas a tratar. Outros inimigos são o modismo e a tradução em notícia do que acontece, mesmo não sendo notícia…
3.º - Coragem – Coragem, para opor o rigor a responsabilidade à superficialidade e à especulação e manipulação; coragem, para defender os direitos e os deveres dos jornalistas (sim, andam a par, os direitos e deveres, porque os jornalistas reivindicam direitos porque têm deveres perante os cidadãos); coragem, para participar efectivamente na orientação editorial dos órgãos de informação; coragem, para resistir a instruções ilegítimas.
4.º - Iniciativa – Quero dizer, pôr as redacções a reflectir sobre as suas práticas, a deontologia profissional, as respostas estruturadas em instrumentos como os livros de estilo, os conselhos de redacção. Mas também a dialogar com os leitores, os ouvintes, os espectadores, não só através dos provedores, mas também através da revitalização das secções/páginas de Media e no estímulo à criação de clubes de leitura. E, ainda, iniciativa no desenvolvimento de alternativas colectivas que façam romper as várias linhas de cerco ao jornalismo, à liberdade de emprego e à liberdade de imprensa, gerando projectos novos que se identifiquem com os direitos e interesses dos cidadãos (numa dimensão mais completa do que a dos meros consumidores) e garantam trabalho e rendimento.

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