Em memória de Gonçalo Nuno Faria

O Gonçalo Nuno Faria completaria hoje 66 anos de vida. Deixou-nos cedo, deixando-nos mais pobres.
Hoje, a Rádio Voz do Marão, de Vila Real, dedica-lhe um programa especial, ouvindo muita gente, especialmente camaradas de profissão e de outras andanças. Sou a mais insignificante delas. Dei, mais palavra, menos palavra, o seguinte modesto depoimento:

Conheci o Gonçalo Nuno Faria há 30 anos.
Eu estava em Braga a substituir temporariamente o delegado do meu jornal de então – o velho “O Primeiro de Janeiro”.
Uma noite, a pretexto de tomarmos uns copos depois do fecho do jornal, fui encontrar-me com uns camaradas do “Correio do Minho”.
Nessa altura, o jornal estava com problemas e lembro-me que havia na Redacção, mas sobretudo na tipografia, um mal-estar que suscitou logo tema de conversa.
Quando cheguei, já lá estavam também o Gonçalo Nuno Faria, da RDP, e outro camarada do “Diário de Lisboa”.
Ali mesmo encetamos uma longa, fraterna e por vezes exaltada conversa sobre os problemas do sector, especialmente dos jornalistas, e sobre a liberdade de expressão.
O Gonçalo amava profundamente a a liberdade e a liberdade de expressão – não apenas a dele, como pessoa, como cidadão, como homem culto e entusiasmado pela vida e pelas pessoas que o rodeavam, mesmo que não pensassem como ele – mas também a dos outros.
Fiquei sempre com esta ideia dele – a de um camarada intrinsecamente generoso, que discutia com exaltada paixão as suas ideias mas respeitando as dos outros.
Não posso dizer que tenha privado com ele, que tenhamos sido amigos no sentido de termos cultivado a amizade para além de encontros profissionais, sindicais ou nas andanças políticas. Mas estimava-o e suponho que a estima era recíproca.
O Gonçalo Nuno tinha uma maneira muito singular de exteriorizar a sua camaradagem e a sua estima pelos outros. Tinha sempre um sorriso franco, aberto, enorme… E abraçava com uma franqueza comovente.
É essa a última e repetida imagem que dele guardo, da última vez que nos encontramos na noite de 24 para 25 de Abril, na Avenida dos Aliados, onde, pelo menos nessa noite, nos encontrávamos todos os anos, entre a multidão que desce à Baixa do Porto para festejar o aniversário da Revolução.
Lá andava ele, de cravo vermelho na mão, distribuindo abraços e beijos, numa contagiante alegria pela liberdade que tanto mereceu.
  

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?