O dia em que o Império começou a acabar

Há 50 anos, perto das três da manhã do dia 4 de Fevereiro de 1961, centenas de negros mal armados, dispondo apenas de facas, catanas e paus, atacaram simultaneamente a Casa da Reclusão Militar, as cadeias civis de Luanda, o quartel da Companhia Móvel da Polícia de Segurança Pública e a estação da Emissora oficial, na tentativa de libertar militantes nacionalistas que lutavam pela independência de Angola.
O acto armado que ficou conhecido por "4 de Fevereiro", longamente preparado sob o impulso do vigário-geral da diocese de Luanda, o cónego mestiço Manuel Mendes das Neves, mas sem o enquadramento de uma organização devidamente estruturada, custou 40 vidas aos voluntariosos negros que nessa madrugada ousaram atacar quatro centros do poder colonial, mais sete numa nova tentativa cinco dias depois, além de um número jamais quantificado - terão sido centenas - de centenas de vítimas das "batidas" de milícias brancas aos musseques organizadas pela PIDE.
Há quem aponte o "4 de Fevereiro" como o início da longa guerra colonial; há quem indique o dia 15 de Março desse ano, data em que a União das Populações de Angola (UPA), liderada por Holden Roberto (nessa data em Nova Iorque, a acompanhar a votação da histórica moção proposta pela Libéria contra o Portugal colonial) desencadeou ataques no Norte de Angola, matando centenas de colonos brancos; há quem recue um pouco mais e o situe na revolta dos trabalhadores das plantações algodoeiras da Baixa do Cassange, a 6 de Janeiro, duramente reprimida com centenas de mortos.
Mas, num contexto de crescente isolamento do regime fascista e colonial no concerto das nações e do imparável movimento de emancipação dos países e povos colonizados, é justo afirmar o dia 4 de Fevereiro de 1961 como o dia em que o Império português começou a acabar, numa longa marcha contra uma ocupação, uma exploração e uma guerra injustas que a Revolução do 25 de Abril de 1974 fez terminar.
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