Assalto ao paquete "Santa Maria" foi há 50 anos

Passam hoje 50 anos sobre o assalto ao paquete português "Santa Maria", no mar das Caraíbas, o primeiro acto político de captura de uma embarcação, ao qual haveria de suceder, onze meses mais tarde (11 de Novembro), o primeiro de pirataria aérea também de inspiração política - o desvio de um avião da TAP - tendo como elementos comuns:
a) Acções de propaganda contra a ditadura fascista de Salazar que deveriam desencadear actos insurreccionais no território, que estiveram longe de ser iniciadas no primeiro caso e que falharam no segundo;
b) Operacionais como Henrique Galvão e Camilo Mortágua, o primeiro dos quais liderou a tomada do "Santa Maria" (o desvio do avião foi chefiado por Hermínio da Palma Inácio), e a autorização de Humberto Delgado, que se apresentava como o presidente eleito, após as eleições presidenciais fraudulentas de 1958, que proclamaram vencedor o candidato do regime, Américo Tomás;
c) O carácter isolado das acções e dos seus autores, que não beneficiaram - nem procuraram, nem esperaram - um enquadramento revolucionário mais amplo e mais eficaz, e muito menos condições políticas que permitissem gerar uma adesão popular suficientemente forte para desencadear a indispensável insurreição.
Tome-se em atenção aliás a análise que o Partido Comunista Português fez imediatamente dos acontecimentos da "Operação Dulcineia" - o nome de código da tomada do navio, que terminaria no dia 2 de Fevereiro, com o exílio dos comandos no Brasil - e dos que imediatamente se lhe seguiram em Angola, no dia 4 de Fevereiro, com o frustrado e violentamente reprimido ataque a cadeias de Luanda onde estavam presos políticos.
Logo na edição da primeira quinzena de Fevereiro do clandestino "Avante!", o PCP considera que "a operação do 'Santa Maria' constituiu uma séria derrota política e diplomática do governo salazarista", e que tanto "as consequências positivas" desta operação como "as acções armadas do povo angolano (...) animaram as forças democráticas e abriram novas perspectivas favoráveis ao derrubamento do fascismo". Mas alerta de imediato para a ineficácia de acções isolas vindas do exterior e propugna um assalto ao poder fruto da organização das forças da oposição.
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