Notas de campanha (7)

1. Arrimada a uma bengala, a velhota observava com atenção as manobras do carteiro, de aproximação milimétrica às caixas do correio e a destreza e rapidez com que depositava as cartas sem apear-se da motoreta. "O que vós precisais é de uma coisa destas, para andar mais depressa", comentou, provavelmente com pena pela estafa da nossa caminhada a distribuir a propaganda. Mas se calhar não poderíamos parar a conversar com as pessoas... "Pois não! E a gente precisa de falar sobre as coisas", concordou, com os panfletos firmes na outra mão. "Logo, com o meu filho e os meus netos, vamos ver bem isto".

2. Afiança o camarada que conhece bem a zona: "Fulano tem isto controlado, é tudo a votar no XX". Ninguém muda? E convoca para a conversa um velho conhecido entretido a limpar o quintal. "Este ano, como vai ser?!", interpela. E o outro: "Já sabes que fui sempre do XX..." Está bem, mas este ano?! E o amigo: "Bem, desta vez... Olhem, boa sorte para vocês!" Prognósticos?

3. Termino a jornada à noite com uma visita à associação Mocidade S. Gemil Atlético Clube, escutando dos seus dirigentes os problemas e as reflexões sobre as causas do definhamento do movimento associativo popular, em particular neste lugar da freguesia de Águas Santas. Com a degradação do edificado do lugar, o rápido despovoamento é implacável. "Não há pessoas!" É uma amostra em chaga viva do tal "desenvolvimento harmonioso da Maia" que só existe na narrativa do presidente cessante da Câmara Municipal.

4. Incompetente para discutir a estética, a função e os fundamentos da coisa, fiquei a matutar nesta imagem, tomada num logradouro entre os alçados traseiros dos blocos de um empreendimento de habitação pública em Crestins. Ocorre-me a ideia, talvez excessivamente sinistra, de muralhas, ou mesmo de fosso, de vizinhança de costas voltadas.

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