Notas de campanha (6)



1 – Um homem, na casa dos 50 e muitos, talvez uns 60 e pouco anos, abeira-se da alegre brigada da CDU que percorre a feira da Santana, em Leça do Balio, e diz baixinho: “Nestes 51 anos, o país está pior…” Paciente, um camarada desafia-o a concretizar: Então como era antes? Em que é que era melhor? Ele embatuca, engole em seco, matuta uma resposta. “Bem, realmente…” Adiante, um idoso toma com interesse o panfleto da CDU na mão e levanta-o com emoção. “Há quem queira destruir o que este partido ajudou a construir nestes anos!” A propaganda passa de mão para mão, há quem esboce um passo de dança com a música da “sonora”, as bandeiras roçam os toldos gastos e cansados dos feirantes. “Ainda se houvesse dinheiro…” Pois então, aumentar os salários e as pensões, mais dinheiro nos bolsos do cliente, mais cliente a vir, mais mercadoria a sair. Atrás da banca, a vendedora ri: “até rimou, é bem verdade!”. Um casal de vendedores de roupas acolhe a propaganda com o vagar de quem resiste a dias difíceis. “Isto está mau, mas olhe, os imigrantes…” Então? “Vêm para cá, são explorados, pagam fortunas de renda. Os de cá também, mas ao menos têm família que vão arranjando alguma coisita; eles vêm sós!”          

2 – Neste dia, passam precisamente 80 anos sobre a capitulação do nazi-fascismo, assinada em Berlim no início da madrugada de 9 de Maio de 1945, que pôs termo à tragédia da II Guerra Mundial na Europa, responsável pelo extermínio de vários milhões de seres humanos – judeus, na maioria, mas também eslavos, comunistas, deficientes e um número de ciganos que se aponta até meio milhão. Ainda na feira de Santana, o horror nazi foi-nos recordado com revolta por comerciantes que receiam o ascenso do racismo e do fascismo da ultra-direita. “Racistas! Fascistas! Nazistas!” Entre os ciganos, cresce a revolta. “Precisamos da CDU, do PCP!”, ouvimos uma e outra e outra vez. “Não se esqueçam de nós! Não se esqueçam de nós!”, pedia um marroquino, mirando o panfleto.

3 – A troca de turnos na fábrica de agulhas em Vila Nova de Gaia é um misto de frenesim e de cansaço. Operários que chegam para entrar, apressados; outros que partem, rosto a pedir o repouso merecido, mas de ritmos desencontrados, em contínua rotação de horários. Há tempo para uma saudação, a oferta e a aceitação do panfleto de campanha. Aumentar os salários, reduzir os horários, regular o trabalho por turnos… “E bem preciso!” Então aqui também? “E de que maneira! Tenho de fazer três – uma semana de manhã, outra à tarde, outra à noite, sempre assim, estou exausta…” Temos de mudar isto! “É, vamos ver…” Não se pode ficar à espera de ver: no dia 18, o voto na CDU é para mudar. “Lá estará o meu voto!”         

 4 – É agora hora de saída numa fábrica de tripas ainda em Gaia, onde uma centena de trabalhadores foi atingida por um despedimento colectivo ou pela medida de lay-off. Os poucos que saem vivem a descrença e o medo. Como vão as coisas agora? “Vão… bem…” Poucos arriscam uma opinião, a aceitação do desdobrável é silenciosa. Então, isto está melhor? “Não, não está!”, arrisca uma. “Ganho mais 20 euros que o salário mínimo!” Por isso é que é preciso aumentar os salários. “Vamos a isso! É no dia 18, não é?”   

5 – O entardecer no interface de transportes colectivos de D. João II, Vila Nova de Gaia, mostra um corrupio de gente, ora devorada, ora largada pelo metro, ora demorada à espera do autocarro, em longas filas. A UNIR está melhor? “Nem por isso, isto não tem jeito!” A senhora está zangada. Ao cabo de uma semana de trabalho, já pesa demasiado. Por isso temos proposto a STCP a assegurar os autocarros em toda a região. “Era isso, sim, mas parece que interessa a alguém que isto continue…” Entre o escasso tempo disponível para uma pequena conversa (esta senhor, por exemplo, queixa-se da reforma de 370 euros; este jovem estudante de engenharia informática vai ler o panfleto com mais calma) e a gente apressada, ou aquele passageiro que, no metro, estende o braço pela porta aberta para pedir um panfleto, o resultado da CDU vai-se construindo. “Contem comigo!” Claro, porque a tua vida importa e o teu voto conta!       

 

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