Notas de campanha (5)
1 – Está a equipa da CDU na sua
tarefa de contacto com os clientes de um supermercado em Ermesinde, e um senhor
de certa idade aproxima-se, estaca, muito sério, e murmura (porém, com voz
firme): “É preciso dar cabo dos nazis”. A fala é séria, preocupada. “Só há um
partido capaz disso”, declara, levando o dedo indicador da mão direita ao desdobrável.
Há manhãs assim. Uma mulher levanta a voz para quem quer ouvir: “É o meu
partido, já era do meu pai, é no que voto: posso não ganhar, mas não dou força
a outros!” Panfletos passando de mão em mão, há quem recuse, é claro, uns
porque sim, terão as suas razões, outros porque já se cruzaram connosco noutras
paragens. Olhem esta outra cliente que aqui vai, carrinho de compras empurrado
para diante com a pressa de quem ainda vai tratar da casa e pegar no turno da
tarde: “Não preciso, já tenho em casa, deram-me ontem na fábrica na Maia!”.
2 – Encontro com a Comissão de
Trabalhadores das Águas do Porto. Troca de impressões sobre os problemas dos
trabalhadores, a situação da empresa e as reivindicações presentes. É a CDU
sempre com quem trabalha.
3 – Contacto com a população e trabalhadores e
comerciantes das lojas na zona da Constituição, no Porto. Ainda a equipa está a
agrupar e a preparar os materiais para a acção de campanha, e uma senhora
acerca-se. “Posso tirar um?” Pede um panfleto, abre-o com interesse. “É disto
que temos de falar, sim senhor, muito obrigada!” Aumentar salários e pensões,
reduzir os horários de trabalho… “Acha?!” A emprega de balcão espanta-se.
Claro, a CDU com mais votos, o PCP com mais deputados, “Os Verdes” outra vez na
Assembleia… Uma velhota responde com uma suavidade tocante à pergunta sobre se
aceita o documento: “Aceito, sim, porque gosto de vocês”.
4 – Interrompo a participação na “equipa
central” da campanha CDU no distrito (todos os dias decorrem dezenas de acções)
para entrar, via telefone, num debate, na Rádio Observador, entre as diversas
listas, sobre Habitação. Estava prestes a ser chamado, nos meus cálculos,
quando irrompe no espaço mediático a notícia aguardada com ansiedade: “Temos
Papa!” A actualidade impõe-se, os alinhamentos dos meios de informação vão ser
reformulados radicalmente, o debate será reagendado. Guardo a cábula e reentro
na equipa que vai já na estação do Metro da Trindade.
5 – Vou a tempo de ouvir a
exortação de uma mulher jovem e cansada “Contra os fascistas!” – assim mesmo,
com estas palavras, que a coisa não está para suavizar. É hora de ponta e há um
mar de gente a entrar e a sair às golfadas – uma leva que parte, outra que
chega, expressando-se nas mais diversas línguas nesta Babel lusitana onde chegam
nativos, turistas, imigrantes…, cada qual no idioma natural e de sua
conveniência. Este marroquino, por exemplo, já se expressa num português
desenvolto e partilha os seus conhecimentos e as suas inquietações em relação aos
campos políticos (esquerda, direita…) e identifica quem é racista e quem é
contra a discriminação. “Partido Comunista? Verdes? São amigos dos imigrantes?”,
interroga um trabalhador da construção que me parece ter vindo da Índia, talvez
do Paquistão, pouco importa. Bem-vindo! E ele parte, com um sorriso resplandecente
e o panfleto da CDU contra o peito.
6 – Os comboios da CP estão completamente
parados, em consequência de uma greve dos trabalhadores ao seu serviço
convocada por vários sindicatos. Os partidos da direita e da ultradireita desenterram
os velhos ódios contra o direito à greve que o ainda primeiro-ministro e chefe
do PSD questiona. Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, bem avisa que o
Governo não resolveu o problema porque não quis.
#CDU #CDUPorto