Notas de campanha (12)
1 – Por uma vez sem exemplo, vou
contar da campanha um pormenor pessoal. Este cravo que levei hoje na lapela na
esplêndida arruada da CDU na “baixa” do Porto, ao final da tarde, foi-me oferecido,
de manhã, por uma florista do Mercado do Bolhão. Mercado do Bolhão com
maiúsculas, apesar da triste ausência dos pregões que lhe imprimiram a
identidade que só um mercado de peixeiras, floristas, batateiras e outras
gentes que ali vendiam e disputavam a clientela em despiques de cordas vocais,
preços e melhor mercadoria. O Bolhão plastificado que ali está é outra coisa.
Não o descobri agora; já o sabia de outras visitas e compras desde que
reabriram o espaço, sem terem feito regressar um mercado.
Adiante.
2 – Pois foi no Bolhão que
começou a jornada de hoje, virada para os comerciantes e para os poucos
clientes portugueses que ali circulavam. “Não é mau, porque têm mais dinheiro,
mas isto está mais para turistas”, era queixa frequente. Chegam às chusmas, aparelho
de som pendurado ao pescoço, escutando os guias turísticos. Solícitos, os guias
esclarecem que “é uma campanha eleitoral do partido comunista português” (um
deles desliga o microfone para dizer-nos “No domingo vou votar em vocês”) e a
visita segue. Faltam, pois, os clientes que habitavam, que trabalhavam, que vinham,
que vivificavam o centro da cidade. Uma vendedeira (ou agora diz-se “lojista”?)
sintetiza: “Não é só ter deixado de haver aqui gente; os autocarros que traziam
aquela gente toda de S. Roque, de Gondomar, por aí fora, deixaram de vir a
Alexandre Braga”.
3 – Na estação do caminho-de-ferro
de Valadares, Vila Nova de Gaia, já não havia hoje bilheteira. Foi ontem o
último dia. Diz o letreiro que está encerrada “Até aviso em contrário”, que é a
habitual figura de estilo usada por quem considera que tem o poder de jamais
fazer qualquer aviso no sentido justo. Lá esteve hoje a CDU, para juntar-se ao
protesto e à luta – não ao protesto e à luta de hoje, mas à luta e à intervenção
dos eleitos da CDU na Assembleia de Freguesia (Beatriz Russo) e na Assembleia
Municipal (André Araújo) e à luta da população que há mais de um mês está no
terreno. Não conhecemos a de nenhum outro partido. Também por isso não somos todos
iguais.
4 – Os trabalhadores da Cabelte,
em Arcozelo, Vila Nova de Gaia, cumprem uma greve parcial desde 31 de Janeiro,
em apoio da reivindicação da negociação colectiva, designadamente pela
consagração da quinta diuturnidade, pelo aumento dos salários, pela reposição do
pagamento do trabalho nocturno a partir das 20 horas e outras reivindicações.
São eles que criam a riqueza que permite à empresa ter mais de 16 milhões de
euros de lucros, segundo os resultados de 2023, porque os do ano passado ainda
não foram divulgados, mas a Cabelte não cede. Os trabalhadores também não. É
tão bela, esta resistência! E, mais uma vez, a CDU esteve com eles.
5 – Terminou hoje, com uma magnífica,
exaltante e inspiradora arruada, a campanha eleitoral oficial no distrito do
Porto. Estava um mar tão imenso de gente e de bandeiras (“As bandeiras não
andam sozinhas!”, bem dizia o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo), que gritou
tanto “CDU! CDU!” e que repetiu em tantas e em tão genuinamente entusiasmadas vezes
“A CDU avança, com toda a confiança!”, que não era possível não ver, não ouvir,
não sentir, não acreditar que estava a acontecer e que as televisões, as
rádios, os jornais não poderiam deixar de contar. Foi assim, não é?!
Foto: PCP