Diário Off (33)
Pandemia – O Governo e a sua diplomacia andam muito arreliados com
a colocação do país nas listas vermelhas de vários países europeus, por causa
da pandemia de Covid-19 que teima em não largar-nos as canelas.
O caso é sério e não são apenas os turistas estrangeiros (e
respectivos governos) a encarar com reserva este destino. Sabemos todos de
muita gente temerosa de pôr o pé fora da porta, quanto mais em rumar para onde
a miragem de um paraíso de recreio e descanso pode ser traída pelo terror de um
surto.
Monarquia espanhola – A Procuradoria espanhola acaba de reforçar a
sua equipa para a investigação ao rei emérito, Juan Carlos de Bourbon, e às
luvas (100 milhões de euros) que terá recebido do monarca absoluto saudita para
intermediar o negócio da construção do comboio de alta velocidade até Meca,
mais a umas generosas transferências bancárias (65 milhões) para uma
“ex-amiga”.
Por outro lado, cresce o debate sobre a “utilidade” da monarquia
espanhola e sobre a real impunidade (a Constituição fala em inviolabilidade do
rei) que parece blindada, embora o Governo insista em fazer crer que todos os
espanhóis são iguais.
Juan Carlos de Bourbon cumpriu o seu papel histórico desde que o
ditador Francisco Franco o chamou para o seu lado (sim, o príncipe tinha um
gabinete junto ao seu, participava em conselhos de ministros passou temporadas
com ele no sinistro Paço de Meirás, na Galiza) e preparou a restauração da
Coroa como garante da unidade de Espanha.
Mas a crescente consciência da inutilidade da Coroa e a complexa
perspectiva de futuro relativamente a autonomias como a Catalunha colocam tudo
isso inapelavelmente em crise. A única solução para o que possa salvar-se dessa
“unidade” há-de ser republicana – mais tarde ou mais cedo.
Colômbia – O presidente colombiano, Iván Duque, acaba de rejeitar
um acordo de cessar-fogo bilateral por três meses com o Exército de Libertação
Nacional (ELN), que pudesse contribuir para “distender” o clima de confrontação
e permitir o regresso ao processo de diálogo entre as partes em Havana.
O ENL, que em Abril cumpriu um cessar-fogo unilateral como gesto
humanitário face à pandemia de Covid-19, invoca os apelos do papa Francisco e
do secretário-geral da ONU, António Guterres, à cessação das hostilidades e diz
ter a sua delegação na capital cubana pronta para o reinício das negociações.
Iván Duque, da confiança da direita conservadora e terratenente e da
ultradireita que mantém paramilitares que assassinam dirigentes sociais e perseguem
ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), cujo
acordo de paz com o ex-presidente Juan Manuel Santos (26 de Setembro de 2016) combateram
e combatem, declina qualquer diálogo.
Memória anti-nazi – A Câmara Municipal da cidade austríaca de
Braunau am Inn decidiu hoje manter uma memória contra o fascismo erigida em
1989 defronte da casa onde viveu Adolf Hitler até aos três anos.
As autoridades pretendem adaptar o edifício para instalações
policiais e desenvolveram um processo de discussão sobre a eventual remoção do
local da memória – um bloco de rocha com a inscrição “Pela Paz, Liberdade e
Democracia. Fascismo nunca mais. Milhões de mortos nos lembram” – tendo concluído
pela manutenção da memória.
“O texto era correcto em 1989 e continua correcto hoje”,
justificou o vice-presidente da Câmara, Hubert Esterbauer, curiosamente do
Partido da Liberdade, de extrema-direita.
Ameaça neonazi – Mais de 32 mil extremistas de direita foram
identificados, em 2019, pelas autoridades alemãs, e uns 13 mil estão dispostos
a cometer actos violentos, segundo o relatório anual do Departamento Federal de
Protecção da Constituição (serviços de informações internas).
O relatório, que indica o anti-semitismo, a islamofobia e a
xenofobia como motivações, precisa terem sido cometidos 21.290 crimes com
motivações de extrema-direita, que vão da propaganda nazi e destruição de
propaganda eleitoral a actos violentos. Os crimes violentos anti-semitas
aumentaram 17%.
Não sem razão, o Governo considera que a extrema-direita é a principal
ameaça à segurança da Alemanha.
Nota editorial –
Chega hoje ao fim a terceira série do meu Diário
Off, uma espécie de boletim do
olhar pessoal sobre o mundo, nestes 33 dias livre das obrigações profissionais
da “imparcialidade” e, sobretudo, resultante apenas das minhas escolhas e
opções “noticiosas”.