Diário Off (21)



O chamado incêndio de Pedrógão Grande (a ignição inicial registou-se em Escalos Fundeiros, neste concelho, mas o fogo percorreu também Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra e Sertã), ocorreu há três anos, passam hoje. O poder político, com o Presidente da República à cabeça, e os media assinalam a efeméride.

Seguramente a memória fresca da ocorrência e a força dramática nunca vista (66 vítimas mortais, mais de 250 feridos, centenas de casas destruídas, 53 mil hectares de espaços florestais e agrícolas percorridos pelo fogo, dezenas de empresas atingidas, centenas de trabalhadores afectados) justificam a atenção dada ao tema.

Ano após ano, tragédia após tragédia, há um ror de promessas por cumprir e um enorme rol de asneiras por corrigir no ordenamento do território, no ordenamento florestal e rural, na prevenção efectiva dos fogos e na organização do combate.

A União Europeia está disposta a financiar a fase inicial – a que encerra maior risco financeiro – da pesquisa em várias companhias farmacêuticas para o desenvolvimento e ensaio de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19.

É uma espécie de adiantamento de pagamento por conta das compras que os 27 estados-membros terão de fazer para garantir o fornecimento do esperado travão à expensão da doença, numa altura em que o Reino Unido parece estar a obter êxitos assinaláveis em tal empresa e em que os Estados Unidos e a China estão também na disputa.

É talvez a primeira vez na história da indústria farmacêutica que a busca de uma vacina (e, atenção, também de antivíricos, embora estes mereçam menos atenção) assume uma extraordinária importância a um tempo económica e geopolítica.

Não é indiferente quem deterá os direitos sobre o fármaco nem o país – ou o bloco – que primeiro chegar a uma vacina eficaz e melhor, mais rapidamente e em maior volume a produzir e distribuir.

Sabendo que a pandemia tem uma expressão planetária, que está a afectar muitos milhões de seres humanos e que a indústria levará anos a assegurar o fornecimento de unidades capaz de cobrir a população mundial (sete mil milhões de almas), é evidente a impossibilidade prática de assegurar o acesso universal à vacina.

A questão consiste em garantir uma distribuição justa – também nos preços! – e equitativa, mediante uma progressão assente em critérios exclusivamente sanitários e numa base de efectiva solidariedade entre os povos. Este é provavelmente o desafio ético mais sério que governos e indústria enfrentam.

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