Diário Off (19)




Desconfinamento. Há algo de estranho a acontecer nas relações de amizade e até afectivas, reféns das regras sanitárias. Dizem-nos que se impõem para que nos protejamos uns aos outros e uns dos outros. Parece-me que a segunda parte da afirmação é a percebida por todos. Também por isso não ficou, e talvez não venha a ficar, tudo bem para muitos de nós.

Ontem, um amigo contou-me sobre um amigo com quem se cruzara na rua, momentos antes. “Posso cumprimentar-te? E dar-te um abraço?”, perguntou-lhe ele. O outro ficou embaraçado. Ainda hoje senti isso, ao reencontrar-me com amigos que não via há largos meses, para o nosso almoço periódico sujeito a um longo interregno sanitário.

Estará a banalização do medo do outro, do risco eventual que comporte, a testar os limites da nossa amizade e até dos nossos afectos? Sucede também com filhos, netos… Que consequências terão esta subtracção de gestos, esta sonegação de abraços e beijos, esta mudança radical até na “etiqueta” familiar?

A Direcção da Organização Regional do Porto (DORP) do Partido Comunista Português (PCP) promoveu hoje mais uma iniciativa com estritas medidas de segurança e prevenção do contágio, mostrando como é possível prosseguir, com as devidas adaptações, a actividade política e a promover a discussão sobre temas da maior importância para o país.

Com a participação de Jorge Pires, da Comissão Política do Comité Central do PCP, e de Ana Mesquita, deputada do PCP à Assembleia da República, o debate sobre o Sistema Científico e Tecnológico ao serviço do país pôs em evidência a necessidade urgente do desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico serviço dos interesses reais do país, e não do sistema dominante, também em períodos como este.

O sistema científico e tecnológico necessita de quadros de investigadores e trabalhadores científicos estáveis e reconhecidos, e não precários e mal pagos; de unidades de investigação robustas e ao serviço do desenvolvimento do país, e não sujeita aos ditames dos interesses privados; de laboratórios do Estado com capacidade, competência e prestígio restaurados. 

O Tribunal do Comércio de Gaia determinou a insolvência da sociedade comercial detentora da Cervejaria Galiza, no Porto. Os trabalhadores, cuja luta de resistência heróica e exemplar tem garantido o funcionamento do restaurante, alimentam a esperança de que as coisas possam "virar" a seu favor. Oxalá! 

O Diário Off regressa no dia 15.

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