Diário Off (20)
Ainda não
são nove da manhã e o controlador de estacionamento já está de plantão diante
da máquina emissora dos papelinhos dos parcómetros e a treinar o olhar de lince.
O trânsito de máquinas é escasso neste instante e há-de permanecer assim todo o
dia. É assim hoje, foi ontem. Os automóveis tardam a reocupar a cidade.
A
reactivação da cobrança do chamado estacionamento limitado, verificada há um
mês, ainda o Porto estava vazio, confirma a suspeita de que é apenas
mais uma fonte de rendas para o Município (e para os concessionários...) do que um instrumento de dissuasão do
tráfego rodoviário por razões ambientais.
O país anda
atarantado com a espantosa história do Novo Banco, o tal que era o banco bom mas
que afinal saiu pior do que a encomenda. Dizem as notícias que o Estado Português
está obrigado a injectar nele o dinheiro que for necessário para suprir falhas
induzidas por “circunstâncias de extrema necessidade”, segundo revela o diário Público. Há pandemias muito convenientes
para o capital.
Rezam ainda
que o contrato de compra e venda do dito banco a um fundo norte-americano
chegou enfim ao Parlamento, mas permanece encerrado sob segredo extremo,
mediante misteriosas encriptações e toda a sorte de chaves secretas e o acesso
dos próprios deputados ficará sujeito a um registo muito rigoroso.
Não se
percebe nem se pode aceitar que, além do brutal custo para os contribuintes que
a operação já acarretou e pode custar ainda, um contrato permaneça subtraído ao
escrutínio público. A democracia e as finanças públicas ganharão muito no dia
em que a publicidade dos acordos e contratos que impliquem dinheiros do Estado passar
a ser uma regra essencial.
O patronato
e o próprio Governo, muitas vezes repercutidos acriticamente (ou mesmo
estusiasticamente…) nos media, têm
alimentado a ideia de que o chamado teletrabalho (na realidade, na maioria dos
casos trata-se de trabalho remoto imposto pelas circunstâncias, sem que o
trabalhador seja compensado por esse regime), e não de recurso ao regime previsto no Código do Trabalho) veio para ficar e que já faz parte do que
convenientemente designam “novo normal”.
Hoje
mesmo a Escola Nacional de Saúde Pública publicou os resultados muito interessantes
de um inquérito
a trabalhadores que estiveram ou estão ainda ao serviço dos seus
empregadores nessas condições, verificando-se que 59% trabalham mais do que o
habitual, que 62% nem sequer utiliza mobiliário adequado e que a as empresas
não prestam apoio em termos de saúde e segurança no trabalho e em
comparticipação em equipamentos e meios de trabalho.
E o estudo
nem sequer aborda outros aspectos muito – muitíssimo – importantes, como a
quase inexistente interacção com os colegas de trabalho, no que isso significa
em termos de dificuldade de partilha de dúvidas e discussão colectiva de
problemas e de quebra dos laços de camaradagem. Também é por aqui que o
patronato quer partir a espinha à organização dos trabalhadores.