Não, não são apenas mais 50 mil para o desemprego

Para além das evidentes consequências sociais directas do despedimento de 50 mil trabalhadores das administrações públicas  - em primeiro lugar, as consequências pessoais e familiares sobre os próprios; em segundo lugar, a dramática redução da qualidade dos serviços onde trabalham - a violenta "medida" anunciada pelo Governo implica consequências indirectas muito, mas mesmo muito, inquietantes.
Em primeiro lugar, o "sinal" que o Governo dá às empresas privadas quanto à resolução do escandaloso problema da precariedade. Se o Estado, que deve ser a primeiríssima pessoa-de-bem e dar o exemplo de corrigir a brutal exploração do trabalho precário, é o principal praticante da arte de descartar-se do problema, que poderão os pobres mortais dos empresários fazer senão seguir impunemente na sua peugada?
Em segundo lugar, o despedimento de 50 mil trabalhadores não tem a "vantagem" da redução da despesa que os seus salários representam, pois esta "dispensa" maciça representa, desde logo: 
a) a renúncia a contribuições que eles estariam a pagar; 
b) o consumo de recursos da segunda social no caso daqueles que tenham direito a subsídio de desemprego; 
c) mais uma contribuição de peso para a diminuição da capacidade de consumo; 
d) mais uma significativa contribuição para engrossar as hordas crescentes de pessoas à procura de ajudas múltiplas - das consultas de psiquiatria e dos psicofármacos à sopa dos pobres.
Em terceiro lugar, confirma que o Governo continua a ser forte, aliás, a ser mesmo muito forte e brutal com os fracos e fraquinho e obediente com os fortes, em cujo pê-lo não só não ousa tocar mas também continua a afagar, aliás com indesmentível desvelo...
Desiludam-se os que pensam que com mais 50 mil para o desemprego, menos 50 mil para o desemprego, a pátria vai continuar a suportar serenamente o jugo de uma austeridade impiedosa.  
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