Estado da República e incidentes simbólicos

Hasteamento da bandeira, hoje, na Câmara Municipal de Lisboa
(foto: Natacha Cardoso/Global Imagens)

No plano do simbólico, há que reter mais dois aspectos das cerimónias da manhã de hoje comemorativas do 102.º aniversário da Implantação da República: 
Primeiro: o incidente da bandeira nacional hasteada ao contrário, que não escapou aos repórteres de imagem (com a devida vénia, uso a feliz imagem de Natacha Cardoso, da Global Imagens), remetendo-nos para o significado diplomático-militar do hasteamento de estandartes em tais condições: o pedido de socorro internacional.
O simbolismo não reside necessariamente nesse significado, pelo facto de o país estar sob "assistência internacional", porque, nesse caso, estaria aqui a discutir, não a propalada "ajuda internacional", mas a ocupação internacional e a capitulação constitucional que ela representa. Reside especialmente no facto de nenhum dos operadores do hasteamento nem nenhum circunstante mais afoito ter tido a coragem de suspendê-lo pelos instantes necessários à recolocação da bandeira na posição correcta.
Leio algures que essa emenda seria pior do que o soneto e a bronca seria maior. Se assim foi, só mostra a nossa (atávica?) dificuldade em reconhecer os erros logo que os detectamos e corrigi-los de imediato e a nossa sistemática e irresponsável habilidade em ocultá-los, dissimulá-los ou ignorá-los até ostensivamente.
Segundo: a cerimónia "à porta fechada", quando deveria ser aberta ao povo, como tem sido. O "Público" fez um título significativo: "Feriado da República despede-se à porta fechada" e o presidente da Câmara de Lisboa alegou com a necessidade do corte de despesas e argumentou que, apesar de decorrer num espaço fechado, as portas estavam abertas a quem quisesse entrar. Mas não haveria uma solução tanto ou mais barata, talvez dispensado o luzido cerimonial, mas realmente aberta ao povo, ou, como comentava o Procurador Geral da República cessante, Pinto Monteiro, "rodeada pelo povo"?
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