Rating da vida real

O Manuel apareceu-me perturbado ao almoço. Ontem à noite, de regresso a casa, encontrou, inapelavelmente colada numa parede do átrio de entrada do prédio, a notificação da execução da penhora do apartamento de um vizinho.
O Manuel é um tipo sensível. Do caso do João tinha a incómoda memória da dívida relapsa ao condomínio, reiteradamente tratada nas assembleias de condóminos vai numa data de anos. Chocou-o ser confrontado assim, de repente, com um caso que nem era o seu. “No fundo, os bancos têm-nos sempre na mão”…
Ouvi o Manuel dividido entre a atenção devida mesmo às minudências da vida de um amigo de décadas e a torrente noticiosa que o televisor despejava: a agência de rating tal baixou Portugal nas notações; os bancos cortaram hoje o crédito ao Estado; desde Janeiro, mais de quatro mil pessoas pediram ajuda à DECO devido a sobreendividamento…
De facto, os mercados têm as pessoas e os Estados na mão. Se as pessoas não têm mão no Estado nem o Estado tem mão nos mercados...
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