Casamento "real" e excitação mediática

Tenho acompanhado com indiferença republicana o delírio mediático em torno de um casamento entre um jovem e uma jovem britânicos – ele apresentado como príncipe, ela apresentada como plebeia-porém-futura-rainha – que vai celebrar-se um dia destes em Londres.
Eu julgava que havia coisas muito mais importantes e muito mais interessantes para ocupar o precioso tempo das televisões e para mobilizar os seus dispendiosos meios, assim como para preencher espaço tão escasso nos jornais. Mas engano-me, pelos vistos.
Ontem à noite, num canal que não me ocorre qual seja, numa daquelas sessões em que os jornalistas derretem o espaço de antena mostrando intermináveis imagens da aldeia (ou seria uma cidade?!) mediática montada à volta do local destinado ao enlace dos prometidos e entrevistando-se uns aos outros, uma enviada de um canal de algures do Planeta dizia esta coisa singela: “são os media que estão excitados com o casamento real, porque os ingleses que eu ouvi nem por isso”.
Ora muito bem, conclui então que os cidadãos britânicos têm de longe mais juízo do que os media e que o espectáculo seguiria em frente, mesmo condenado à insuficiência de auditório.
Conclui mal, pelos vistos, porque ainda hoje um excitado enviado de um canal televisivo assegurava, mais ou menos por estas palavras, que o entusiasmo é grande e que, prova disso, é que há um grande número de jornalistas mobilizados. Entusiasmo de quem?
.  

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?