Os números da ajuda da Cáritas

A quantificação dos fenómenos e dos problemas é um problema em comunicação - das instituições - em geral e em Jornalismo em particular.
Foi notícia hoje, na generalidade dos órgãos de informação, a afirmação do presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, de que "no último ano, em 13 dioceses do país, o número de pessoas atendidas pela instituição aumentou de cinco mil para 62 mil pessoas".
Estaríamos, assim, perante um aumento de 57 mil pessoas, ou seja, perante um aumento percentual de 1140% - um acréscimo que justificaria ecos muito vigorosos de inquietação e de protesto.
No entanto, logo a seguir, o mesmo responsável "estima que, globalmente, haverá um acréscimo, face ao ano passado, de 20 a 30% de pessoas que no último ano passaram a receber apoio da instituição", segundo as suas palavras aos jornalistas.
É também de 30% que fala o comunicado final do Conselho Geral da organização: "O Núcleo de Observação Social (NOS) deu a conhecer o número de atendimentos que as Cáritas diocesanas prestam às comunidades. Apesar dos resultados não abrangerem todas as Cáritas, os dados divulgados mostram que há um acréscimo de 30% de solicitações nesta área".
Ora, um aumento de 30% sobre cinco mil pessoas representa um acréscimo de 1500 (por extenso: mil e quinhentas), ou seja, passaria para 6500 (seis mil e quinhentas) e não 62 mil.
Ou as minhas contas estão mal feitas (e na verdade a Matemática é uma das minhas inúmeras fragilidades), ou algo me escapa ou alguém anda a fazer e a comunicar mal as contas. Não quereria a fonte dizer aumento de 50 mil para 62 mil? 
Não é que não tenhamos todos a percepção de que o drama da necessidade de ajuda está a agravar-se, que "o pior está para vir" e de que é necessário agir. Mas ganharíamos todos muito se houvesse um bocadinho mais de rigor.

Aditamento: Seria útil que a Cáritas Portuguesa disponibilizasse no seu sítio os relatórios anuais das suas actividades. Se lá estão, não os encontrei. 
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